CORREIO DA CARNEIRO - DEPARTAMENTO CURRICULAR DO 1.º C.E.B. DO A.F.G.CHAVES

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

História do dia




Manuel e Manuela


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Eles saíram desalvorados para a escola.
- Escusam de ir a correr - disse-lhes a mãe.
- Têm tempo.
Manuel e Manuela refrearam a marcha. Se a mãe lhes dissera que tinham tempo é porque tinham.Logo ali, quase à mão de apanhar, umas tangerinas, penduradas de um ramo, que lhes dizia adeus. O Manuel trepou ao muro e raptou duas tangerinas da tangerineira, uma para ele outra para a irmã. Fresquinhas. Deliciosas.
- De quem é o quintal? - perguntou a Manuela ao Manuel.
- É do cabo Octávio, da Guarda Republicana disse o Manuel.
- E se ele sabe? - assustou-se a Manuela, que gostava de assustar-se.
Mas já tinham comido as doces tangerinas.Continuaram o caminho e logo por azar, à entrada da escola, deram com o cabo Octávio, postado de sentinela.
Os dois irmãos, ao verem-no, esconderam-se atrás de uma árvore.
- E se ele descobre? - assustou-se a Manuela.
- Cheira-nos as mãos, que ainda cheiram à casca das tangerinas, e prende-nos.
Claro que era um exagero, uma tolice, mas quando se tem a consciência pesada só se pensa no pior.
- Vamos lavar as mãos ao rio - lembrou o Manuel.
Foram. O perfume da tangerina é que não saía nem por mais uma.
- Temos de arranjar sabão para lavar as mãos como deve ser - disse o Manuel.
Lavadeiras tinham deixado lençóis a secar, estendidos nas pedras lisas da beira-rio. E um bocadinho de sabão.
- Há-de ser da senhora Angelina, lavadeira - disse a Manuela.
Lavaram conscienciosamente as mãos, muito bem ensaboadas, mas o sabão escorregou-lhes e foi ao fundo. Não era grande a perda.
Eles a retomarem o caminho para a escola e a verem, ao longe, a senhora Angelina, com mais uma carga de roupa para lavar. Vinha em direcção a eles. Claro que a Manuela e o Manuel, por causa da história do sabão, fugiram, sem que a lavadeira percebesse porquê.
Fugiram e perderam-se.Quando retomaram o caminho e chegaram à escola, onde já não pairava a sombra do cabo Octávio, a aula tinha começado há que tempos.
- Hão-de dizer à vossa mãe para passar a acordar-vos mais cedo.
Os dois irmãos disseram que sim. Que mais podiam eles dizer?
A professora ralhou-lhes pelo atraso.

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