CORREIO DA CARNEIRO - DEPARTAMENTO CURRICULAR DO 1.º C.E.B. DO A.F.G.CHAVES

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

scraps para orkut


Para todos os nossos visitantes um Ano Novo repleto de saúde e amor.


Feliz Ano de 2009




sábado, 20 de dezembro de 2008

Montagem de Presépio


Faça o seu presépio clicando aqui

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Uma visita inesperada

Foi na noite de Consoada que um anjo apareceu, na casa de pessoas muito ricas e que disse à dona da casa que Jesus ia aparecer.
A dona ficou muito emocionada. Nunca lhe acontecera tal coisa.
Ficou tão entusiasmada que começou a preparar um jantar muito requintado.
Encomendou muitos pratos bem apresentados.
De repente uma mulher pobrezinha, que precisava de ajuda tocou-lhe à campainha.
A mulher rica não se importou e mandou-a embora.
Voltou para a cozinha e meteu-se na sua vidinha de má.
Mais tarde apareceu um homem cheio de óleo e pediu-lhe para usar o telefone mas ela não deixou.
Voltou para a cozinha e continuou a limpar as pratas, os cristais e as porcelanas.
Ouviu a campainha de novo, ficou muito enervada e foi abrir a porta.
Apareceu-lhe um menino faminto que lhe pediu de comer.
Ela fechou-lhe a porta.
Por fim jantar estava pronto.A família já estava com a barriga a dar horas.Só faltava chegar Jesus.
Fartos de esperar foram para o sofá e adormeceram.
Na manhã seguinte o anjo apareceu e disse que Jesus tinha estado em sua casa mas ela não O quis ver.
As pessoas que foram à sua porta eram Jesus.
FIM!
(Carina 3º ano Santo Amaro)

Avaliação da Escrita dentro da Sala de Aula

Regra geral, os alunos partem do princípio que a sua missão é escrever e a do professor avaliar. No entanto, deve-se trabalhar para que este ponto de vista se altere: os alunos devem começar a ser também leitores – críticos daquilo que escrevem, adquirindo responsabilidade e capacidades suficientes para decidir se os objectivos ao escrever um determinado texto foram cumpridos, e para admitir o que está errado no texto, pois sem a noção do mal há pouca ou nenhuma esperança de que esses erros venham a ser corrigidos.
Um momento importante da avaliação escrita ocorre quando é fornecido ao aluno “feedback” acerca do que foi escrito, pois só assim poderá saber o que fez bem e quais os aspectos que terá de melhorar.
É também comum os alunos pensarem que avaliar o trabalho de outrém, é equivalente à procura de erros – de ortografia, pontuação, estruturas gramaticais, ordem frásica , etc. Ora avaliar um texto escrito passa, incontestavelmente, pela verificação dos erros que ele contém, mas passa fundamentalmente, pela comparação entre o que o aluno queria escrever e entre aquilo que o leitor lê.
Como já foi referido, é vantajoso que o professor se coloque, aquando da avaliação de um texto escrito, na posição de leitor e não apenas na posição de avaliador e classificador. Isto implica que no momento da resposta / avaliação do texto, o professor deva reforçar os aspectos positivos, e não apenas apontar os erros e incorrecções. Será também útil se os alunos lerem e comentarem o trabalho uns dos outros. No entanto, o professor, no momento de avaliar e corrigir um enunciado escrito, deve lembrar-se de alguns factores: o professor deve-se concentrar, maioritariamente, nos erros que têm um efeito global – isto está relacionado com os erros que colocam em risco o significado do texto e não apenas de uma frase; deve também estabelecer prioridades no que diz respeito à correcção dos erros – querer resolver todos os problemas ao mesmo tempo, apenas vai confundir e desmotivar o aluno.
Após a correcção dos erros, por parte do professor, o aluno deve analisar e descobrir onde e porque falhou.
Ao corrigir o trabalho escrito de um aluno, o professor deve valorizar:*


CRIATIVIDADE*

ESCRITA CLARA*

ENCADEAMENTO DAS IDEIAS*

PARTES DO TEXTO*

PARÁGRAFOS*

CORRECÇÃO ORTOGRÁFICA*

O ESTILO DO ALUNO

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

RELAÇÃO FAMÍLIA /ESCOLA

Família e escola, são realidades diferentes mas complementares no percurso de construção do indivíduo. Como concluem Mounnier e Pourtois citados por Menezes, (1990, p. 83) o seu “(...) significado cultural, económico e existencial (...) reside no encontro dinâmico das realidades, valores e projectos”.

Actualmente, é difícil negar o papel determinante que a comunidade em geral, e especificamente a família, desempenham na escola. Um papel baseado, não na dependência mas, numa cooperação que se torna essencial assegurar.

Neste sentido, e num contexto de mudança cada vez mais rápido, torna-se necessária a reconceptualização da relação família/escola.

Jantar Convívio de Natal/Agrupamento Vertical Dr. Francisco Gonçalves Carneiro

mensagens para orkut


Vai realizar-se no próximo dia 18 de Dezembro, pelas 20.00 horas, no Restaurante da Albergaria Borges (Outeiro Jusão) o tradicional Jantar de Natal, para confraternização de Pessoal Docente e Não Docente
Todos os interessados (incluindo Associação de Pais) em participar nesta confraternização, devem proceder à sua inscrição na Dª Teresa, no bar dos Professores, até ao próximo dia 16 de Dezembro.

Ementa:
Entradas variadas
Prato Misto de Cabrito e Leitão
Vitela Assada (opção)
Buffet de Sobremesas
Sobremesas da Quadra Natalícia
Bebidas variadas e café

Preço por Pessoa: 17,5 euros



HISTÓRIA DO DIA


O Gosto das Bruxas


António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez uma menina que estava presa, na torre mais alta de um castelo.Ela era um princesa, mas não lhe valia de nada, porque perdera os seus pais e o reino, numa guerra que o dono do castelo, já se vê, é que ganhara.
Ainda era o tempo das fadas. Por isso a menina disse, para que as paredes ouvissem:
- Se uma fada me salvasse, fosse boa, má ou assim-assim e eu repartia a meias com ela o tesouro do meu perdido reino, que só eu sei onde está enterrado.
As paredes toda a gente diz que têm ouvidos. Estas ouviram, passaram palavra e daí a nada uma velha fada apareceu na sala.
- Vou dar volta à tua vida - disse a fada.
- És uma fada boa? - perguntou a menina.
- Nem por isso - respondeu a fada.
Era uma fada assim-assim e para provar que não era das melhores, mas também não era das piores, impôs, à partida, uma condição. Salvava a menina, mas, antes, ela tinha de adivinhar-lhe o nome. E avisou logo que não tinha um nome muito mimoso.
- Serafina - disse a menina.
Nem pensar. Não era Serafina nem Leopoldina nem Marcolina. Nem Eufrásia nem Tomásia. Nem Quitéria nem Pulquéria. Nem Aniceta nem Eustáquia nem Teodósia nem Venância nem Bonifácia nem Gregória. Nem sequer Capitolina.
A princesa esgotou os nomes mais esquisitos que conhecia. E a fada sempre com a cabeça a dizer que não. Até que propôs o seguinte negócio:
- Salvo-te, mesmo que não descubras o meu nome, mas fico com o tesouro só para mim. Todinho!
A menina concordou. Não tinha outro remédio. Vai daí a fada pronunciou umas palavras mágicas e ela e a princesa atravessaram as paredes da prisão. Uma vez em liberdade, a princesa ensinou o local onde estava escondido o tesouro e pronto, a história acaba aqui.
E o nome da fada-bruxa?
Também a menina quis saber.
- Chamo-me Joaninha - respondeu a fada-bruxa, baixando os olhos, envergonhada.
- Mas Joaninha é um nome bonito - estranhou a princesa.
- Eu não acho - disse ela.
- Gostava mais de ser Virgolina Zebedeia.
Vá lá a gente entender o gosto das bruxas.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008



Três Bastonadas

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Esta história aconteceu num tempo que até custa a recordar. Dói. Dói muito. Mas há dores e ardores que fazem bem, que curam. Por exemplo, um pacho de água oxigenada em cima de um arranhão (ou mesmo uma gota de álcool) desinfecta. Claro que dói, mas sopra-se, alivia e passa.
É o que vai acontecer com esta história, prometo.
Nesse tempo, os filhos de servos eram servos também.
Os pais trabalhavam, nos campos ou nos castelos dos senhores fidalgos, e os filhos, mal podiam carregar com um balde de água ou manejar uma enxada, eram também obrigados a trabalhar. Escolas? Não havia. Leis que protegessem a infância? Estava-se ainda muito longe de pensar nisso.
Vamos chamar José ao rapaz da nossa história. É órfão e servo. Vai ser castigado. Injustamente.
Uns figos que estavam a secar na eira desapareceram, roubados por algum guloso, e as culpas foram cair no José. Porquê? Porque sim. Era o mais novo dos trabalhadores. Só podia ser ele.
De nada lhe serviu gritar a sua inocência. Quem acredita num garoto, ainda por cima servo, um desclassificado, um ranhoso?
A mando do senhor, o capataz ferrou-lhe três bastonadas nos ossos, à vista de todos, para que servisse de exemplo. José chorou toda a noite, de dor, de humilhação, de revolta.
Voltou a chorar, dias depois, quando soube que o autor do roubo dos figos tinha sido o filho mais novo do senhor. Até houve quem se risse. Entre eles, o filho mais novo do senhor.
As bastonadas, essas, não podiam ser apagadas das costas do servo José como quem apaga, numa folha, um risco errado.
José jurou que havia de vingar-se, demorasse o que demorasse a vingança. Eles, capataz, senhor e filho, iam pagar as três bastonadas e a vergonha.
O mundo deu muita volta. José cresceu.
Puseram-lhe uma lança na mão e disseram que ele era soldado. Como soldado andou por batalhas confusas, dando e levando, sem saber ao certo à conta de quem combatia. Os mandantes da guerra ora se aliavam ora se zangavam e os respectivos exércitos eram ajustados ou retalhados, ao sabor dos caprichos dos senhores.
Um dia, José, no meio de uma refrega, viu-se diante do filho do senhor, tão homem feito como ele. Vinha a cavalo, pronto a enfrentar outro cavaleiro da sua estirpe. José, com o cabo da lança, deu-lhe uma bastonada que quase o derribou do cavalo. Depois, soldado apeado, continuou a correria atrás do pendão, indiferente ao destino do adversário.
Só lhe faltavam duas bastonadas.
Aconteceu que no fim dessa batalha, o cirurgião do exército em que o José estava alistado precisou de ajudantes. José ofereceu-se e tão bem se houve a cuidar dos feridos que o mestre cirurgião o pôs ao seu serviço.
Quando, finalmente, voltou a paz àquelas terras, o cirurgião não quis desfazer-se do aprendiz.
José aprendeu com o mestre tudo o que ele tinha para ensinar. Foi assim que o antigo servo órfão acabou por tomar, por sua conta e risco, o título de cirurgião.
Naquele tempo, como já disse, não havia escolas. Davam-no como um grande doutor.
Vieram, uma vez, ter com ele, a pedido do castelão, aflito com um osso de galinhola atravessado nos gorgomilos.
José foi visitá-lo e deparou com o senhor que ordenara as bastonadas. O homem estava quase sufocado.
- Tragam-me um pau - pediu José, diante do doente. - Para se livrar dessa aflição, tem de levar uma bastonada.
Parece que cuspiu o osso, mas José já não quis saber. Também não tinha levado nada pela consulta.
Só faltava uma bastonada.
Ele a sair do castelo e um moleiro a vir ter com ele aos gritos.
- O meu pai estava a ajudar-me a desmanchar o engenho do moinho e cai-lhe a mó em cima de uma perna. Que desgraça!
José acudiu e foi dar com o antigo capataz a torcer-se de dores, com uma perna esmagada pela mó do moinho.
- Traga-me um pau bem grande - pediu o cirurgião José, que antes tinha sido José, menino órfão, servo castigado inocente.
O filho do capataz trouxe um pau.
- Maior - exigiu o cirurgião José.
O filho do capataz foi buscar. Quando veio com uma viga de todo o tamanho, José disse-lhe:
- Agora ajude-me que eu sozinho não consigo.
Entalou o madeiro entre o chão e a mó, os dois em peso fizeram de alavanca e assim conseguiram arredar a perna do capataz do aperto em que estava.
- Salva-se? - perguntou o filho do capataz.
O cirurgião José olhou para a perna ensanguentada e para o desfalecido capataz e respondeu:
- Salva-se.
E tratou-o. E salvou-o.
Esta bastonada foi a que lhe deu mais gosto pagar.
O senhor ofereceu as costas de bom grado e zás, apanhou uma paulada e tanto.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008


Má Boca
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Dantes, lá para os lados da Rússia ou mais longe ainda, havia uma rainha caprichosa e esquisita de boca, que, por maldade ou desfastio, se especializara em provocar dores de cabeça aos cozinheiros do palácio.
- Amanhã quero para o almoço um puré de pétalas de açucena, colhidas ao alvorecer e sem mais tempero senão dois dedais de manteiga, fabricada com o leite de vacas brancas, sem malha nenhuma no dorso. Isto que venha a acompanhar finas fatias de fiambre de salmão da Geórgia, pescado à mão por mergulhadores bizantinos. Não esquecer o pormenor dos mergulhadores bizantinos, indispensável para a boa qualidade do salmão.
Os cozinheiros registavam a encomenda e suspiraram para dentro, porque se suspirassem para fora, ai deles! Por muito menos já alguns tinham sido chicoteados... Tempos maus esses para os cozinheiros.
Cada dia, uma extravagância nova. Quando, uma vez, a rainha exigiu, para um jantar de festa, bifes de dragão, os cozinheiros entreolharam-se, em silêncio, cheios de pavor. Onde é que eles iam encontrar um dragão? E como é que haviam de caçá-lo, eles, humildes cozinheiros, que não conheciam outras armas senão as facas de cozinha, os trinchantes e as escumadeiras? Que aflição.
Foram ter com o rei, para pô-lo a par do que a sua real esposa pretendia. E explicaram-se:
- Um dragão, tão nobre bicho, não se deixa caçar por cozinheiros. Só um caçador real conseguirá tal proeza.
O rei percebeu logo onde eles queriam chegar. Mandou-os em paz. Depois, foi ter com a rainha e disse-lhe:
- Minha senhora esposa, venho despedir-me. Parto para a caça ao dragão, que vos apeteceu. Se não regressar dentro de dois dias é porque o dragão decidiu incluir-me no jantar dele, em vez de ser ele incluído no vosso.
A rainha, que se achava ainda muito nova para experimentar a viuvez, protestou, dizendo que afinal a ideia dos bifes de dragão talvez não tivesse sido muito feliz, tanto mais que, segundo constava, a carne de dragão era um bocado indigesta.
- Talvez para o dragão a minha seja menos - comentou o rei, com ar decidido.
E partiu. Demorou-se.
Passaram dias, semanas, meses e o rei sem voltar.
Constava que, para lá das montanhas, encontrara um dragão no seu covil e com ele batalhara, na vã tentativa de arrancar-lhe uns bifes, ao que o dragão se opusera.
Ao fim da luta, ganhara quem tinha de ganhar... Pobre rei! A rainha nunca mais se lembrou do jantar de festa nem de qualquer outro jantar ou almoço ou pequeno-almoço. Recusava-se a comer, carregada de desgosto e luto. E carregada de remorsos.
Um dia, apareceu à porta do palácio um mercador, que apregoava dentes de dragão. Tinha um ar estranho, usava um manto até aos pés e pesadas barbas que lhe fechavam o rosto. Pediu para ser recebido pela rainha.
Quando ela viu, enfiado num dos dentes de dragão, um anel a luzir, a senhora rainha desmaiou. Tinha reconhecido o anel, usado pelo rei.
- Ai o meu pobre Carlos! - gemeu ela, ao desfalecer.
- Carlos Terceiro, Imperador da Transcaucásia, Caucásia, Subcaucásia e Recaucásia, Califados vários e Emiratos anexos. Sim, eu, o rei vosso marido - disse o mercador, arrancando as barbas, que eram postiças claro, já se percebeu.
A rainha, desmaiada, desfalecidinha de todo, apanhou, para restabelecer a circulação, uns tabefes meiguinhos e, quando acordou e se viu nos braços do marido, mais não conto...
Conto só que se curou dos apetites maníacos e que agora come de tudo, carne, peixe, fruta e doces do menu corrente e sempre com temperança real, como convém a tão distinta majestade. Nunca se chegou a saber se os dentes de dragão seriam verdadeiros. Eu desconfio...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




Duas Mulheres


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Era uma vez duas mulheres. Uma tinha muitos filhos. A outra não tinha nenhum.
Um dia, a que não tinha filhos convidou a outra para ir lá a casa.
Mas que viesse só. Sim, sobretudo que viesse só, sem a ranchada de filhos atrás, porque ela, sim, tomasse nota, porque ela não gostava de crianças.
- Ui, são insuportáveis! - dizia.
- Desarrumam tudo, sujam tudo, estragam tudo. Eu nunca quis ser mãe porque me falta paciência para aturar gaiatos.
A casa dela estava recheada de coisas e coisinhas, todas muito bem colocadas em prateleiras e prateleirinhas.
Era uma casa cheia e muito asseada, por onde se andava com muita cautela, quase em bicos de pés, para que as prateleiras não estremecessem e as coisa e coisinhas não se sobressaltassem.
A mulher que tinha muitos filhos mirou tudo o que a dona da casa sem crianças lhe quis mostrar.
Não só o que estava à vista, mas também as gavetas e arcas atulhadas de rendas, lençóis, toalhas, e os armários carregados de vestidos, blusas, casacos, que a mulher sem filhos gostava de exibir às visitas.
- Tivesse eu filharada e não podia ser tão rica - dizia ou parecia dizer a mulher sem filhos.
Tempos depois, foi a vez de a mulher com muitos filhos convidar a outra para ir lá a casa. Que algazarra! Miudagem por todo o lado.
Muito atordoada, no meio das crianças, a mulher sem filhos olhava para o desalinho da casa, a pobreza dos móveis, a fraqueza da despensa. Pois sim.
Ela é que estava na razão, ela é que tinha juízo, por nunca ter querido ter filhos.
Chegou a altura de tomarem chá.
- Mariana, faz-me um favor e põe a água ao lume para o chá - pediu a mãe à filha mais velha.
- Não temos chá - disse a filha Mariana.
- Então, ó Carlos, vai ali à loja do Senhor Augusto e compra uma lata de chá, das pequenas - pediu a mãe a um dos irmãos da Mariana.
Quando, já de chávenas na mão, deram pela falta do açúcar, a mãe pediu:
- Rosa, pega no açucareiro e vai a casa da vizinha Adriana pôr uns torrõezinhos - pediu a mãe.
- Mas, depois, não os comas pelo caminho...
Toda a miudagem se riu. Era uma casa muito alegre.
Depois do chá, a filha Noémia pôs-se a pentear a mãe, que era uma maneira de fazer-lhe festas. Com o Toninho ao colo, o mais novo do rancho, a mulher que tinha muitos filhos conversava despreocupadamente com a mulher que não tinha filhos.
- Eles são a minha riqueza - contava ela, sorrindo e fazendo um grande gesto em roda.
A mulher sem filhos compreendeu e até talvez sentisse, lá no íntimo (que é o sítio onde se guarda o coração...) e reconsiderasse, finalmente, que a mulher com filhos era muito mais rica do que ela.

domingo, 7 de dezembro de 2008

História do dia


Sape, Cão!


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Era uma vez um cão com dono...

Era uma vez um gato sem dono...

- Quem vem lá? - pergunta o cão, de focinho no ar, a farejar, a farejar...

Claro que esta pergunta a fez ele muito antes de tudo isto começar - aí a uns duzentos metros desta história.

O gato não tem o faro tão apurado, mas os olhos dele atravessam a distância e pressentem sombras e ameaças, que só ele conhece. Por acaso, desta vez, o gato não ia a olhar para onde devia. Era um gato distraído. Ou míope. Quando se lhe eriçaram os bigodes, já era tarde. À sua frente, de supetão, um cão cãozarrão, voz de trovão...

Que aflição! Foge! Antes que lhe dissessem, já ele tinha fugido. As patas iam à frente, e ele com elas.

Tal como nos filmes de desenhos animados. Este filme é curto. Acaba numa árvore sem frutos, sem folhas, uma árvore mesmo a propósito para salvar gatos. Correu por ela acima e não deu por que subia. Nem que fosse um pinheiro gigante, um mastro, um muro de castelo. Nem que fosse a Torre Eiffel...

De unhas-canivetes-picaretas, com a pressa atarantada em que ia, o gato até era capaz de trepar à Lua, se houvesse escadas para lá chegar. Ficou-se pelo cimo da árvore. Deu por isso quando lhe faltou o apoio. Sobravam-lhe forças para muito mais lances.

- E agora? - perguntou, lá de acima, o gato, engolindo ar.

Ele era preto, como o corvo da fábula, enquanto o cão, mal acomparado, fazia as vezes da raposa. Faltava apenas o queijo. E a manha.

- E agora? - perguntou de novo o gato, mais seguro do seu poiso.

- Agora fico à espera que a árvore dê frutos e os frutos caiam de maduros... - rosnou o cão.

Se nos ficássemos por aqui, esta história não chegava ao fim, o que era pena. Temos nós, portanto, de acrescentar o mais importante da fábula. Sim, porque isto é uma fábula, a do cão, animal doméstico, e do gato, animal vadio...

As conclusões, vocês que as tirem.

- Piloto! - chamou uma voz ao longe.

O cão Piloto fingiu que não era com ele.

- Estão a chamar-te, Piloto. Tens de ir - aconselhava-lhe, do seu poleiro, o gato.

- Sempre ouvi dizer que os cães são muito obedientes.

- Piloto! - repetiu a voz, mais perto e mais impaciente.

O cão rosnou, levantou os traseiros e voltou a sentar-se.

- Piloto, venha já ao dono! - gritou a voz ameaçadoramente perto.

E o Piloto, de cabeça baixa, lá foi, suspirando...

“Literatura Infantil e Tradição Oral: que desafios para a Escola?”

No dia 29 de Novembro realizou-se no Auditório Municipal de Chaves, o workshop "Literatura Infantil e Tradição Oral: que desafios para a Escola?", tendo como orador o Doutor Alexandre Parafita (Escritor e investigador/UTAD e Centro de Tradições Portuguesas da Universidade de Lisboa).
Com uma vasta obra de livros infantis e infanto-juvenis, o autor realça que "A criança de hoje cresce dominada ou moldada pela cultura dos media, especialmente a televisão. Por sua vez, muita da literatura infantil tende a reflectir essa mesma cultura, ao aparecer excessivamente estereotipada em relação aos modelos do imaginário propostos pelos media.
Será que é possível reequilibrar esse excesso, com a reutilização de alguns dos melhores recursos da literatura oral tradicional: a educação da sensibilidade, o estímulo da imaginação, o respeito pela identidade e pela memória?"
O Presidente do Conselho Executivo do Agrupamento Vertical Dr. Francisco Gonçalves Carneiro, o Professor Fernando Dias, começou por dar as boas-vindas e respectivo agradecimento ao convidado de honra.
Estiveram também presentes o vice presidente Francisco Santos que apoiou os organizadores nos trabalhos de preparação do Workshop e o director do novo Centro de Formação, o professor Altino.
Seguiu-se a intervenção do Doutor Alexandre Parafita começando por agradecer à organização, Departamento Curricular do 1.º CEB e Biblioteca Escolar do Caneiro o facto de o terem convidado.
Fez algumas leituras de textos das suas obras, contos... poesia... encantando todo o público presente.
Após um curto intervalo, onde se puderam adquirir algumas das obras do autor e depois de uma sessão de autógrafos, reiniciou-se o Workshop com um espaço para o debate. Foi moderador o director do jornal "A Voz de Chaves", Paulo Chaves.
A presidente da Associação de Pais/Encarregados de Educação do nosso Agrupamento, Manuela Tender, interveio no sentido de agradecer ao autor o facto de nos ter proporcionado momentos tão mágicos e referiu os livros do autor como literatura de interesse para todos os graus de ensino.
O Departamento agradece a todos os presentes.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Provérbios da Bruxa e o Caldeirão...

Nós, as turmas de adultos do 1º ciclo, também fizemos um pequeno trabalho sobre a obra " A Bruxa e o Caldeirão". É uma lista de provérbios que inventámos, juntamente com as nossas professoras.



1 - Caldeirão furado, sapo encantado.
2 - Bruxa feia, apaga a candeia.
3 - Caldo embruxado, rabo molhado.
4 - Caldeirão " mijado", manjerico estragado.
5 - De bruxa desdentada, só sai asneirada.
6 - Ronca a bruxa, coaxa o sapo.
7 - Bruxa envenenada, vida amargada.
8 - Vendedoe aldrabão, bruxa no caixão.
9 - Arruda no pote, bruxa no caixote.
10 - Fogo de bruxa, queima a carapuça.
11 - Queima o rabo, assenta o cú no lago.
12 - Velha bruxa gaiteira, faz a sementeira.
13 - Sapo no canavial, coaxa no Carnaval.
14 - Sopa de Carnaval, leva nabal.
O Grupo dos Adultos do 1º ciclo

O Natal de Margarida!!



Era uma vez uma menina chamada Margarida, tinha os olhos azuis, os cabelos loiros e era pobre.A menina perguntou aos seus pais porque é que não festejavam o Natal e a mãe respondeu que o dinheiro nem para os alimentos chegava quanto mais para o Natal.A menina pôs o seu cérebro a trabalhar, foi buscar argila perto de sua casa para fazer Jesus, Maria e São José.Quando a Margarida acabou de os moldar pintou-os.Quando o seu pai chegou a casa pediu-lhe para cortar um pinheiro, porque o pai era lenhador.Amenina foi ao lixo buscar fitas e pelo cominho apanhou pinhas para enfeitar o seu pinheiro.Quando acabou de o enfeitar ficou muito bonito.Quando os seus pais o viram ficaram admirados e disseram que estava muito bonito.Assim fizeram um Natal sem gastarem dinheiro.

AGRADECIMENTO À ASSOCIAÇÃO DE PAIS/ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

O Departamento Curricular do 1.º CEB agradece à Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento Dr. Francisco Gonçalves Carneiro todo o apoio que tem dado às escolas, aos alunos, aos professores e a disponibilidade que tem mostrado na divulgação e presença (fazendo-se representar por alguns elementos), em eventos organizados pelo Departamento.
Em nome de todos os professores deste Departamento um bem-haja a esta Associação.

CERTIFICAÇÃO DE ADULTOS “OS NOSSOS MENINOS!”

Este mundo que parece tão à parte!!! Tão próximos!!!... que faz de nós tão afortunados pela riqueza de gente que aí se encontra à espera de receber e de dar muito.
Para todos eles o nosso mais sincero agradecimento, pela vontade sempre entusiasta em participarem do que é nosso… vosso… deles.
A sua integração em toda as actividades tem-nos dado lições de vida tão ricas que não os podemos deixar “escapar”… seja por que motivo for.
A todos os alunos deste nível de ensino os nossos parabéns pela forma humilde e calorosa com que nos têm acarinhado e transmitido os segredos da sua longa experiência.

FORMAÇÃO PARA PROFESSORES DO 1.º CEB

No âmbito da formação promovida pelo Ministério da Educação em parceria com a instituição do ensino superior UTAD, os professores do 1.º ciclo estão a receber formação nas áreas de Ciências Experimentais e Matemática.
A referida formação vem de encontro às políticas educativas europeias, no sentido de actualizar o sistema de ensino, pondo em prática as reformas que têm vindo a ser feitas ao longo dos anos.
Na área da Matemática os professores estão a trabalhar de acordo com o novo programa, tendo acesso a materiais que utilizam na parte prática da formação junto das suas turmas…. material Polydron, material Multibásico, ….
As aulas nas suas turmas tornam-se muito mais participativas e lúdicas e os alunos aprendem os conceitos com mais facilidade.
Na área das Ciências Experimentais, de carácter obrigatório no 1.º ciclo e cuja duração semanal é de duas horas e meia, o envolvimento dos docentes é enorme.
Nas primeiras sessões da formação trabalharam-se os temas: luz, sombras e espelhos e foram feitas aulas práticas no terreno.
O produto destas aulas tem vindo a ser relatado pelos docentes como muito aliciante para os alunos e importante para a formação de novos cientistas no nosso país.

Formação Parental/EPN

O Departamento do 1.ºCiclo levou a cabo três sessões de formação para pais, ao longo do 1.º período, no auditório da escola sede, com a colaboração da Escola de Pais Nacional.
As respectivas sessões decorreram nos dias 30 de Outubro, 14 e 21 de Novembro e contaram com a presença de pais dos alunos do Agrupamento, onde foram abordadas temas relacionados com a disponibilidade dos pais para com os filhos, desenvolvimento infantil, castigos e recompensas, educação sexual/educação para o amor, importância do ambiente familiar na educação dos filhos…
Os representantes da Escola de Pais Nacional, neste concelho, Isaura Sousa, Hermínio Rodrigues, e Elisa Tomáz fizeram os contactos com os formadores que se disponibilizaram a colaborar com o Departamento no sentido de tornar esta actividade exequível.
Tivemos a honra de ter connosco, como formadores, o presidente da Direcção da EPN Manuel Amílcar Freitas e a esposa Isabel Freitas.
À EPN e a todos os pais que connosco colaboraram nesta iniciativa, os nossos agradecimentos.

Comportamentos/Adesão

No âmbito do Projecto de Saúde Escolar, implementado pelo Centro de Saúde N.º2 de Chaves junto das escolas do 1.º ciclo, contemplado no Plano Anual de Actividades do Departamento do 1.º CEB, realizaram-se, ao longo do 1.º período, duas formações para professores, com a psicóloga Dra. Helena Vieira, “Como manter estilos de vida saudáveis” e “Mudança de Comportamentos” realizadas nos dias 19 e 26 de Novembro de 2008. Os objectivos das mesmas eram elucidar os intervenientes sobre a melhor forma de lidar com o desgaste físico e intelectual que a profissão provoca e reflectir sobre factores causadores desse mal-estar.
As acções tiveram um carácter mais prático abrindo, assim, a participação de todos os intervenientes. Discutiram-se formas correctas de gerir o tempo e o desenvolvimento de actividades que ajudem os docentes a viver mais felizes, no sistema de vida actual. Todos os participantes saíram da formação bem dispostos…

História do dia



Por causa de uns Cabritos
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez um homem. Era uma vez uma mulher. Encontraram-se, agradaram-se um do outro e vai daí casaram-se. Esta história começa onde as outras acabam. Mas há mais para contar. A mulher levou para a nova casa uma cabrinha de que nunca se apartara.
O homem levou um bode, que sempre lhe fizera companhia. Já se vê que a cabra e o bode apreciaram a ideia. Meses depois nasceram cabritos.
- Vou vendê-los no mercado e com o dinheiro que ganhar quero comprar umas coisas para mim - disse o homem.
- E para mim? - perguntou a mulher, fazendo cara feia.
- Para ti? - admirou-se o homem.
- Os cabritos pertenciam-me. A tua cabra, quando veio cá para casa, não tinha cabritos. O meu bode é que lhos fez.
Portanto, os cabritos pertencem-me. Posso fazer deles o que eu quiser. Não era este o ponto de vista da mulher. Quando há pontos de vista opostos, há discussão. Às vezes, a discussão escorrega para zanga. Foi o que aconteceu. Fizeram mais barulho do que deviam e os vizinhos foram queixar-se ao juiz. Ele, que sabia julgar, que decidisse daquele caso.
O juiz, um rapaz novo e bem disposto, ouviu a história, pensou um bocadinho e disse:
- Eu hoje não posso tratar desse caso, porque tenho de ir avisar a minha mãe de que o meu pai deu à luz um bebé.
Ficaram todos muito espantados. Depois, desataram a rir. Quando o dono do bode ouviu a resposta do juiz também se riu. E a mulher com ele. Aliás, ela ainda se riu mais. Estava tudo esclarecido.
Tempos depois, na casa do homem e da mulher que por pouco não fora abaixo por causa de uma discussão de cabritos, nasceu um menino. Dos dois, já se vê.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

História do dia




Manuel e Manuela


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Eles saíram desalvorados para a escola.
- Escusam de ir a correr - disse-lhes a mãe.
- Têm tempo.
Manuel e Manuela refrearam a marcha. Se a mãe lhes dissera que tinham tempo é porque tinham.Logo ali, quase à mão de apanhar, umas tangerinas, penduradas de um ramo, que lhes dizia adeus. O Manuel trepou ao muro e raptou duas tangerinas da tangerineira, uma para ele outra para a irmã. Fresquinhas. Deliciosas.
- De quem é o quintal? - perguntou a Manuela ao Manuel.
- É do cabo Octávio, da Guarda Republicana disse o Manuel.
- E se ele sabe? - assustou-se a Manuela, que gostava de assustar-se.
Mas já tinham comido as doces tangerinas.Continuaram o caminho e logo por azar, à entrada da escola, deram com o cabo Octávio, postado de sentinela.
Os dois irmãos, ao verem-no, esconderam-se atrás de uma árvore.
- E se ele descobre? - assustou-se a Manuela.
- Cheira-nos as mãos, que ainda cheiram à casca das tangerinas, e prende-nos.
Claro que era um exagero, uma tolice, mas quando se tem a consciência pesada só se pensa no pior.
- Vamos lavar as mãos ao rio - lembrou o Manuel.
Foram. O perfume da tangerina é que não saía nem por mais uma.
- Temos de arranjar sabão para lavar as mãos como deve ser - disse o Manuel.
Lavadeiras tinham deixado lençóis a secar, estendidos nas pedras lisas da beira-rio. E um bocadinho de sabão.
- Há-de ser da senhora Angelina, lavadeira - disse a Manuela.
Lavaram conscienciosamente as mãos, muito bem ensaboadas, mas o sabão escorregou-lhes e foi ao fundo. Não era grande a perda.
Eles a retomarem o caminho para a escola e a verem, ao longe, a senhora Angelina, com mais uma carga de roupa para lavar. Vinha em direcção a eles. Claro que a Manuela e o Manuel, por causa da história do sabão, fugiram, sem que a lavadeira percebesse porquê.
Fugiram e perderam-se.Quando retomaram o caminho e chegaram à escola, onde já não pairava a sombra do cabo Octávio, a aula tinha começado há que tempos.
- Hão-de dizer à vossa mãe para passar a acordar-vos mais cedo.
Os dois irmãos disseram que sim. Que mais podiam eles dizer?
A professora ralhou-lhes pelo atraso.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




Táxi
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Deram ao cachorrinho o nome de "Táxi". Com tantos nomes disponíveis, logo foram escolher este! Mas ele não se importava.
- Táxi - chamavam.
E ele vinha, a dar ao rabo, sempre contente. Mas eram os donos de má qualidade. Gostavam de brincar com o cachorrinho, pois gostavam, mas quando o viram crescer e transformar-se num grande cão disseram:
- O Táxi só está a estorvar. Não podemos mantê-lo cá em casa.
Abandonaram-no. Há gente assim, sem coração. O Táxi viu-se no meio de uma rua, com grande movimento, e desorientou-se. Cheirou o ar e não deu com o caminho de casa. Nem valia a pena. Supomos que o Táxi suspeitava que já não o queriam. Tinha de conformar-se. Ia ser um cão vadio, um cão de rua, um Táxi sem dono nem passageiro.
- Táxi - chamaram, perto.
Ele acorreu ao chamamento.
- Sai daqui, cão - enxotou-o uma senhora, que ia a apanhar um táxi.
- Táxi - chamaram, mais adiante.
O cão não se fez esperar, mas um senhor cheio de embrulhos, que ia a entrar num táxi, deu-lhe um pontapé. Ele não percebia. Chamavam-no e logo o rejeitavam. Gente esquisita. De desilusão em desilusão, foi ter a uma praça de táxis. Mero acaso. Um motorista, que estava à espera de freguês, partilhou com ele uma bucha com queijo.
- Como te chamas? - perguntou-lhe o motorista por perguntar.
Se ele pudesse responder... Fosse como fosse, talvez por afinidade, foi-se deixando ficar. Os motoristas acharam graça à alegre pressa com que ele se levantava dos quartos traseiros quando alguém pedia um táxi.
- É cá dos nossos - diziam.
E adoptaram-no. Continuava a ser um táxi livre, sem dono, mas protegido por uma quantidade de amigos.
Afinal o nome Táxi sempre lhe valera para alguma coisa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




Não tem Escolha

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser uma:
- Rei.
Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus projectos de futuro?
Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia.
Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais queixar-se:
- O meu filho, que eu gostava tanto que fosse jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem.
Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o que é que aconteceria?
Encheu-se de coragem e disse.
O rei, que era um homem compreensivo, respondeu-lhe:
- Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser arquitecto, mas o teu avô deixou-me esta obrigação, que havia eu de fazer?
Por sinal que era um rei muito dado a construções. Se o queriam ver feliz, mostrassem-lhe projectos de obras públicas, hospitais, escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os arquitectos e os engenheiros como se fosse um deles.
- Se não tivesses de ser rei, o que é que gostavas de ser, quando fosses crescido? - perguntou o rei ao príncipe.
- Gostava de ser veterinário - respondeu o príncipe.
- Não vai ser fácil. Um rei veterinário não é muito comum. Há casos de reis-soldados, de reis-marinheiros, de reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar no assunto.
Era um bom pai e um bom rei. Em segredo, começou a projectar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se fosse um arquitecto.
Quando tinha a obra toda projectada, estendeu os rolos dos projectos diante dos olhos do filho e disse-lhe:
- Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o jardim, quando fores rei.
Mas o pai podia mandar construir agora - disse o príncipe.
- Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu morrer, deixo-te o reino e estes projectos, para que te ocupes deles.
Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha outra alternativa. Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico, que, uma vez pronto, maravilhou o mundo.
Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha querido ser arquitecto.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA


Grandes Bigodes
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Era um senhor com uns grandes bigodes. Tinha muita vaidade nos seus imensos bigodes, muito espetados, metade para cada lado e um risco ao meio para se assoar à vontade.
À noite, dormia de barriga para o ar, porque não queria amachucar os bigodes. De manhã, demorava mais tempo a pentear e alisar os bigodes do que a lavar-se. Mas lavava-se, podem crer!
No autocarro para o emprego, sempre muito cheio de gente, acotovelava à esquerda e à direita, para que não fossem de encontro aos seus belos bigodes. Ao almoço, não comia sopa, para não sujar os bigodes. Nem ao jantar.
- Parece que está com uma guia do bigode mais comprida do que a outra - disseram-lhe, uma vez.
O senhor dos grandes bigodes não descansou enquanto não chegou a casa. Mirou-se e remirou-se ao espelho e, de tesoura na mão, cortou uma pontinha de um dos lados do bigode.
- Assim já está certo - disse.
Mas talvez não estivesse... Então, cortou uma pontinha do outro lado.
- Agora é que está - disse.
Mas parecia que ainda não estava...
Passou a noite a cortar, ora dum lado ora do outro, sempre descontente, sempre impaciente. E, quando chegou a manhã, o senhor dos grande bigodes já não tinha bigode.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




O Bolo-Rei

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos.Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês:
- Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
- Sorry! I don't understand...
O que queria dizer na dele que pedia desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa.
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas.
- Flá, plefe, pflu, pfló... Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu:
- Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse.
- São uns rebeldes estes meus súbditos - concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei.
- Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.

domingo, 30 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA


As Traças
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)


Eram duas traças. Tinham ido parar ao meu sobretudo, guardado no Verão, para voltar a servir no Inverno. As duas traças não me conheciam de parte alguma. Por isso não podiam pedir-me autorização para se servirem, à maneira delas, do meu sobretudo.

Naquele guarda-vestidos havia mais roupa pendurada, mas o sobretudo azul-escuro, de lã macia, era o que mais lhes convinha. Quando, chegado o Inverno, dei com dois buracos na lapela do meu sobretudo, barafustei:
- Malditas traças! Não há naftalina que as detenha.
Talvez estas traças estivessem constipadas ou a naftalina que eu tinha espalhado pelos bolsos do sobretudo fosse de má qualidade... Talvez estas traças não respeitassem nada nem ninguém, nem sequer senhores de sobretudo ou sobretudos sem senhores...
- Logo na lapela, tão à vista de toda a gente. Podiam antes ter traçado o forro ou as abas, atrás. Assim, inutilizaram-me o sobretudo. Não tem remédio.
Devia haver uma maneira de avisar as traças a não roerem lapelas, golas e peitilhos de casacos e sobretudos. Talvez mudassem de hábitos.
Eu, neste Inverno, particularmente frio, tenho andado de sobretudo, o azul-escuro de lã macia, o traçado... Mas com uma particularidade: sempre com uma flor na lapela.
É para tapar os buracos feitos pelas traças. Os meus amigos não sabem e dizem-me que ando com um ar festivo.
- Andas tão alegre, neste Inverno - comentam.
Se eles soubessem...

PROVÉRBIOS DE DEZEMBRO



Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
Dezembro frio, calor no estilo.
Em Dezembro, treme de frio cada membro.
Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
Mal vai Portugal , se não há três cheias antes do Natal.
Do Natal a Santa Luzia cresce um palmo o dia.
Noite de Natal estrelada dá alegria ao rico e promete fartura ao pobre.
Natal a assoalhar e Páscoa ao luar.
Em Dezembro descansar para em Janeiro trabalhar.
Depois que o Menino nasceu, tudo cresceu.
Pela Santa Luzia, minga a noite e cresce o dia.
Dezembro de frio e neve,
Dias pequenos sem luz:
Mas foi no mês de Dezembro
Que veio ao mundo Jesus.
In “Cantares de todo o ano”
Em Dezembro corta lenha e dorme.
Dos Santos ao Natal bico de pardal
De S.ª Catarina ao Natal, um mês igual.
Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio
Dezembro frio, calor no estio.
Dia de S. Silvestre (31/12), quem tem carne que lhe preste.
Do Natal à Sta. Luzia, cresce um palmo em cada dia.
Dos Santos ao Natal, é Inverno natural.
Ande o frio por onde andar, há-de vir pelo Natal.
Caindo o Natal à 2ª feira, tem o lavrador que alugar a eira.
De Santa Catarina ao Natal, mês igual.
De Santos a Santo André, um mês é; de Santo André ao Natal, 3 semanas.
Do Natal a Santa Luzia, cresce a noite e mingua o dia.
Dos Santos ao Natal, cada dia mais mal; do Natal ao Entrudo, come capital e tudo.
Mal vai Portugal se não há 3 cheias antes do Natal.
Não há ano afinal que não tenha o seu Natal.
Natal ao sol, Páscoa ao fogo, fazem o ano formoso.
Natal em casa, junto à brasa.
Natal na praça, Páscoa em casa.
Natal à 6ªfeira, guarda o arado e vende os bois.
No dia de Natal têm os dias bico de pardal.
No dia de S. Silvestre, não comas bacalhau que é peste.
No Natal semeia o teu alhal se o quiseres cabeçudo, semeia-o pelo Entrudo.
Para que o ano não vá mal, os rios enchem 3 vezes entre S. Mateus e o Natal.
Pelo Natal se houver luar, senta-te ao lar; se houver escuro, semeia outeiros e tudo.
Pelo Natal, cada ovelha no seu curral.
Pelo Natal, neve no monte, água na ponte.
Pelo Natal, sachar o faval.
Pelo Natal, tenha o alho bico de pardal.
Quando o Natal tem o seu pinhão, a Páscoa tem o seu tição.
Quem quer bom ervilhal semeia antes do Natal.
Quem varejar antes do Natal, deixa o azeite no olival.
Se queres a desgraça de Portugal, dá-lhe 3 cheias antes do Natal.
Se te queres livrar de um catarral, come uma laranja antes do Natal.
Tudo a seu tempo, e os nabos no Advento.
Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
Depois que o menino nasceu, tudo cresceu.
Em Dezembro descansa, em Janeiro trabalha.

sábado, 29 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




O Papagaio do Restaurante

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era um papagaio muito esperto. Tudo o que ouvia imitava. E até o que não ouvia...Tinha poiso no restaurante do senhor Albano, um modesto restaurante do bairro, sem nada de especial, salvo o papagaio. À sua conta, o palrador atraía a clientela, que vinha de longe só para ouvir-lhe as habilidades.
-Como te chamas?
Tratava todos por tu.
Não era um papagaio de cerimónias. O visado respondia, por exemplo:
-Manuel.
E logo o papagaio rimava:
- Pastel.
Ou caso fosse:
- Manuela.
O papagaio rimava:- Rodela de morcela.
Ou:
- Agostinho.
- Copo de vinho.
Sempre que fosse rima de comer ou de beber, o senhor Albano servia.
- Somos sócios - explicava o senhor Albano, muito contente com o negócio dos comes e dos bebes.
Mas não eram. E porque não eram, o papagaio gostava de pregar-lhe partidas.
Uma vez, um cliente, que precisou de ir à casa-de-banho e ia abrir a porta respectiva, ouviu uma voz dizer:
- Está gente.
O senhor recuou e esperou. Esperou o mais que pôde e mais não podendo foi dar conta da sua necessidade noutro sítio. Outra pessoa com vontade de ir à casa-de-banho e a mesmo voz a avisar:
- Está gente.
O caso repetiu-se, a ponto de o senhor Albano se intrigar. Ele próprio foi ter à porta da casa-de-banho.
- Está gente - respondeu a voz.
O senhor Albano não se conformou e abriu a porta. Como se calcula, o papagaio era o responsável. Agarrado pelo pescoço, teve de ouvir das boas do dono:
- Eu te dou a gente, papagaio de uma figa torta.
- Mão morta, mão morta, vai bater àquela porta - respondia o papagaio, muito esganiçado. Passados dias, a mesma coisa. Alguém com precisão inadiável e a porta da casa-de-banho fechada.
- Está gente - diziam, de dentro.
Minutos depois, novo truz-truz e a mesma voz a anunciar: O senhor Albano desconfiou e também ele bateu:
- Está gente - foi a resposta.
- Isso é que não está - disse o senhor Albano, atirando um ombro à porta que, por sinal, estava fechada à chave.
- Está gente - gritou um indignado protesto, do outro lado.
Novo encontrão, a porta cedeu e o senhor Albano entrou, de repelão. Afinal, desta vez, estava mesmo gente, logo, para mais, uma senhora...
- Ah, desculpe que foi engano! - exclamou, atrapalhado, o dono do restaurante.
O papagaio, que a tudo assistira, escondido atrás de umas pipas, riu que se fartou. Ou não se fartou, porque daí em diante, por tudo e por nada, gritava:
- Albano foi engano - e largava uma risada daquelas amalandradas, de rebentar com os nervos a um santo, quanto mais a um Albano, dono de um tasco de comes e bebes. O que ele barafustava:
- Palavra que, um dia, perco a cabeça e meto-te na panela.
- Perdias clientela - gritava o papagaio.
- Deixo-te a cozer!
- Ficavas a perder...
- Com batata às rodelas!
- Depois é que eram elas...
- Sal, azeite ou margarina...
- Servido com presunto...
- Albano sem bestunto!
- E salsa bem picada...
- Sem mim não eras nada!
- Sabias a galinha.
Neste ponto, o papagaio eriçava-se todo e gritava:
- Galinha, qual galinha?!
A minha carne é minha! A minha carne é minha! E voava assarapantado, deitando ao chão tudo o que estivesse nas prateleiras do restaurante. Nessas ocasiões, o senhor Albano, avaliados os estragos, também não se ficava a rir.
Fora estes arrufos, davam-se os dois muito bem.
- Ficavas na ruína! Ficavas na ruína!
- Está gente.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O ALFABETO DA FELICIDADE


(A): É muito difícil definir a FELICIDADE, esse bem tão desejável. No entanto, podemos falar sobre ela, expondo diferentes ângulos pelos quais pode ser vista, apreciada e compreendida. Assim, podemos afirmar, por exemplo, que a felicidade está presente quando não somos obrigados a fazer o que não queremos. O simples fato de termos de engolir o que não queremos nos torna infelizes, não é verdade? Outro exemplo: as coisas complicadas raramente trazem felicidade; ela é mais facilmente encontrada nas coisas simples.
(B): A felicidade não se permite ser egoísta. Quando verdadeira, ela quer espalhar-se, contaminar tudo à sua volta. Ela quer doar-se! Nesse sentido, é uma riqueza que a todos quer enriquecer.
(C): Não existe felicidade completa. Quando compreendemos e aceitamos esse fato, ficamos mais sábios, passando a saborear melhor cada gota de felicidade proporcionada por nosso destino e nossos esforços.
(D): A felicidade tem de ser procurada ativamente. Se ficarmos passivamente à espera de alguém ou de algum fato que nos traga felicidade, veremos que ela nunca chegará. Ao contrário, é muito provável que a tristeza chegue antes dela.
(E): A felicidade é uma graça exigente, pois requer inteligência, energia, atenção e empenho. Só quando esses requisitos estiverem presentes, ela poderá se aproximar de nós.
(F): Ser gentil traz felicidade, pois é uma atitude pertencente à família do AMOR.
(G): A felicidade é uma árvore cujas raízes estão dentro de nós mesmos; apenas suas folhas dependem das coisas exteriores.
(H): Por incrível que pareça, o fato de termos sido infelizes nos permite apreciar melhor a felicidade.
(I): A verdadeira felicidade está em ficarmos livres de preocupações, emoções negativas e desejos incontroláveis.
(J): Os deuses nos criaram para sentirmos felicidade. Somos nós que fazemos de tudo para atrapalhar esse desígnio.
(L): O descontrolado excesso de desejos é o maior inimigo da felicidade.
(M): Ter bom coração nos traz o prêmio da felicidade.
(N): Beneficiar os outros atrai a fada Felicidade.
(O): Ter felicidade é estar bem na cabeça, no coração e no corpo.
(P): Quando, de alguma forma, proporcionamos felicidade, nos tornamos felizes.
(R): A felicidade é um pássaro fugaz e, por isso, não devemos tentar prendê-lo; podemos apenas admirar a sua beleza.
(S): Quem souber suportar o sofrimento com dignidade e nobreza chamará a felicidade para si.
(T): A felicidade ama quem procura sinceramente ser sábio, honesto e justo.
(U): Felicidade é estar bem na própria pele.
(V): Viver prisioneiro do egocentrismo é a maior das infelicidades. Ser capaz de sair dele, mesmo que por instantes, já é felicidade.
(X): Para um coração habitado pela felicidade, tudo é festa. Para um coração habitado pela raiva e pela mágoa, nem a melhor das vidas tem graça.
(Z): A felicidade faz dos desprovidos, milionários.
No texto acima, apresentamos apenas o alfabeto da felicidade. Existe, porém, a possibilidade de um aprofundamento muito maior desse tema de central importância para o ser humano. Nossa intenção aqui foi a de indicar apenas os primeiros passos a serem dados no caminho da felicidade.

Carta de Natal


Escrevo esta carta para te fazer o meu pedido de Natal.


São vinte e três, um de cada letra do abecedário.

São para mim e para todas as pessoas do mundo.



Amor. Para dar e receber.

Bondade. Para os corações que não têm a necessária.

Coragem. Para enfrentar os problemas do dia a dia.

Decisão. Poder decidir com a mente e com o coração.

Esperança. Que seja a ultima a morrer.

Felicidade. Todos merecem ser felizes.

Generosidade. Dar sem esperar receber.

Honestidade. Ser honesto é virtude.

Igualdade. Mesmo que as pessoas sejam diferentes.

Justiça. Porque a injustiça é cruel.

Liberdade. É um bem precioso.

Moral. Para saber distinguir o bem do mal.

Nacionalidade. Todos devem ter uma nação.

Orientação. Que ninguém se sinta perdido.

Paz. Porque a guerra não pode vencer.

Qualidade. Não interessa ter muitos se não forem bons amigos.

Respeito. Respeitar e ser respeitado.

Saúde. Para o corpo e para a mente.

Tranquilidade. Mesmo nos momentos mais difíceis.

União. Porque a união faz a força.

Valentia. Porque a coragem é a mais forte.

Xarope e outros medicamentos. Não faltem a ninguém.

Zelo. Temos que zelar uns pelos outros.


Estes 23 pedidos sao para oferecer a todos os meus amigos...

História do dia



A Cegueira do Príncipe


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)

Veio esta história de longe, da Índia, que é terra fértil em histórias de encantar. Aí se conta de um príncipe filho do poderoso marajá (que era um rei da Índia, de antigamente), aí se fala de um príncipe cego.
Inexplicável doença roubara-lhe a luz dos olhos e nenhum sábio ou médico dos mais eminentes conseguia atinar com a cura do seu mal. O rei (o marajá) só vivia para o seu desgosto e toda a corte mergulhara também em grande tristeza.
Mas, um dia, apresentou-se no palácio um peregrino que disse:
- Sei do remédio que cura o príncipe.
O marajá chamou-o logo à sua presença:
- Diz-me o que precisas para livrar o meu filho da cegueira, que tudo se fará como tu ordenares. - Preciso apenas de uma taça de cristal - respondeu o peregrino - e que Vossa Majestade me acompanhe numa viagem, através do reino.
Rei e peregrino desceram às ruas e aos campos miseráveis do reino. Por onde passavam, onde houvesse lágrimas vertidas pelo povo, lágrimas de sofrimentos, de misérias, de injustiças sofridas e caladas, o peregrino colhia-as na sua taça de cristal.
Quando tiveram a taça quase cheia de lágrimas - o que não foi difícil, porque o povo daquele reino era pobre e vivia abandonado, no meio da sua pobreza -, quando deram por finda a viagem e regressaram ao palácio, o peregrino banhou os olhos do príncipe com o conteúdo da taça.
Que ninguém se admire com o que sucedeu...
Imaginem que logo, naquele instante, o príncipe voltou a ver. A história não conta se o rei, depois desta viagem, passou a cuidar melhor dos assuntos do reino nem se o príncipe, uma vez rei, foi bom e justo para o seu povo.
A história não conta, mas nós acreditamos que sim, que foi tal e qual como nós desejamos que tudo passou a acontecer.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

História do dia


O Senhor Gordo


António Torrado (escreveu )


Cristina Malaquias (ilustrou)



Era uma vez um senhor muito gordo.Foi ao médico dos gordos, que querem passar a magros ou a menos gordos. Um médico muito famoso.
- O que o senhor precisa é de fazer exercício - disse-lhe o médico.
- Que género de exercício? - perguntou o senhor muito gordo.
- Desporto - explicou-lhe o médico.
- Ginástica, natação, corrida...
O senhor gordo, que também era muito preguiçoso, preferiu a corrida, mas a cavalo. Sempre era mais confortável.No mês seguinte, voltou ao médico.
- O senhor está na mesma - disse-lhe o médico, depois de medir-lhe a cintura.
- Não emagreceu nada.
- Mas emagreceu o cavalo - esclareceu o senhor gordo.
- Depois deste mês de exercício, a carregar comigo, está só pele e osso.
E o senhor continuou gordo, para o resto da vida.
O cavalo, esse, teve de ir consultar um veterinário, a ver se engordava.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




A Fonte dos Pardais

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez uma fonte à beira da estrada. Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro.
Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros.De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e, depois, abalava. Nessas alturas, a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar.
- O que é que ele vai fazer com tanta água? - intrigava-se um pardalito novo.
- Deve ir regar as couves - sugeria um pardal.
- Para ele regar as couves é pouca - replicava uma velha pardoca, muito conhecedora da vida.
- Então é para ele beber - propunha outro pardal.
- Para ele beber é muita - replicava a velha pardoca.
- Para o que será? - perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder-lhe.
Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se.
Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho. Alto lá! E também havia garrafões de água, tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais.Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões: "ÁGUA DA FONTE DA SAÚDE - Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem".
Aos saltinhos, diante dos garrafões, o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte, centro da sua vida, e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem, aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro.
Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que, lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera. Disparou em direcção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros:
- Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte.
- E a água para que serve? - perguntou um companheiro.
- Para segurar o nosso retrato - respondeu, prontamente, o pardalito.

terça-feira, 25 de novembro de 2008


Zé Desgraçado

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez um homem muito pobre. Não tinha nada de seu e vagabundeava, todo esfarrapado e de longas barbas cinzentas, de terra em terra, vivendo de esmolas.
Chamavam-lhe Zé Desgraçado e, com o tempo, esse passou a ser o seu verdadeiro nome. Há também que dizer, à partida, que a história se passa em África. Zé Desgraçado ia pelo meio do mato quando encontrou um antílope morto, trespassado por uma azagaia. Pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu".
Todo contente, começou a juntar lenha para fazer uma fogueira onde assar o antílope. Nisto, um passarinho poisou-lhe no ombro e disse:- Zé Desgraçado, não comas essa carne.
Continua em frente, que o melhor está para vir.Zé Desgraçado, embora contra-vontade, correspondeu ao conselho do passarinho.Seguiu viagem, apertadinho de fome, mas seguiu. Mais adiante, encontrou uma gazela, morta, também trespassada por uma azagaia.O vagabundo pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu.
E o caçador passo a ser eu".Mas, de novo, o passarinho lhe disse:- Zé Desgraçado, não comas essa carne. Continua em frente, que o melhor está para vir.
Muito contrariado, o mendigo avançou pelo meio do mato. Assim, chegou ao deserto. O passarinho, que não o largava, animou-o a continuar a viagem.
Sob o fogo do sol, cheio de sede e de fome, o Zé Desgraçado arrastou-se pela areia. Dunas sobre dunas e mais dunas e dunas...
Até que chegou a um oásis. Como se estivesse à espera dele, um rancho de criados despojou-o dos farrapos, mergulhou-o numa tina de água perfumada e cobriu-o, depois, de ricas vestes. O vagabundo já não parecia o mesmo, embora continuasse com fome. Os mesmos criados conduziram-no a uma grande tenda, onde estava uma bela senhora vestida de penas.
Ela falou, a desejar-lhes as boas-vindas, e o Zé Desgraçado reconheceu a voz do pássaro que o conduzira.
Era viúva e única dona do oásis e da mina de ouro que nele havia. Parece que estava tudo predestinado para que ali se realizasse um casamento, seguido de sumptuosa boda... Ao Zé Desgraçado convinha-lhe, tanto mais que continuava cheio de fome.
- Vais casar-te comigo - disse-lhe a senhora.
- Mas imponho-te uma condição: nunca podes olhar para trás.
O vagabundo estava por tudo. Desde que comesse qualquer coisinha...
Depois da cerimónia do casamento, estenderam as iguarias, sob a cúpula da tenda. Manjares deliciosos. Entre eles, um antílope e uma gazela. Zé Desgraçado que ia a provar, de água na boca, um bocadinho de carne tostada, lembrou-se:
- No caminho para cá, encontrei um antílope e uma gazela, iguais a estes.
E apontou para trás. E olhou para trás.Logo tudo se desvaneceu.
Nem que fosse um sonho. Zé Desgraçado voltou a encontrar-se no meio do mato, sozinho e cheio de fome.