Quando em Novembro se aproxima o S. Martinho, costuma aparecer no céu um lindo sol, para que, por esse país abaixo, se assem as castanhas e se prove o vinho.É sempre assim os anos todos. E o povo, à sua maneira, explica assim a razão deste pequeno Verão, tão agradável, tão quentinho, tão bom!Havia, há muitos anos, um soldado romano, rico, que, a cavalo, fazia as suas rondas pela cidade a ver se estava tudo em ordem. E uma vez, por alturas de Novembro, saiu, como de costume, debaixo de uma chuva miudinha e fria. No caminho, apareceu-lhe um velho, pobre e quase nu, que lhe pedia esmola.Martinho, era assim que se chamava o cavaleiro, não tendo à mão nada que lhe dar, tirou a capa que levava aos ombros e, com a espada, cortou-a a meio, cobrindo com metade os ombros regelados do mendigo. E segui o seu caminho.E não ia ainda muito longe, quando, sem mais nem menos, a chuva parou e um sol bonito raiou no céu.É por isso que ainda hoje, pela altura de S. Martinho, um sol radioso costuma aparecer e a que o povo chama o "Verão de S. Martinho".
Num dia frio e ventoso
Pela estada a tiritar
Segue um pegureiro andrajoso
E um romano a cavalgar
Era um garboso soldado
Da legião de Juliano
Que seguia muito embuçado
Na intempérie do ano
Estende para ele a mão
Ossuda, ganchona e congelada
Por causa do tal tufão
O pobre não tinha nada
O seu cavalo sofreou
E num gesto caridoso
A mão dele acalentou
Este soldado brioso
Desembuçou-se, em seguida
A sua espada tomou
E com esta bem polida
A sua capa cortou
Deu metade ao pobrezinho
E envolto na outra metade
Prosseguiu o seu caminho
Após tanta caridade
Porém e subitamente
No caminho do soldado
Um sol resplendente
Deixou tudo iluminado
Conta a conhecida lenda
Que Deus muito reconhecido
Em cada ano nos oferenda
Este tempo tão aquecido
Vamos então celebrar
O Dia de São Martinho
Castanhas saborear
Acompanhadas de vinho.
António Caldeira
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