O Pau de Fósforo
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)
Era uma vez um fósforo, um pau de fósforo - vejam bem que com tão pouco se começa uma história.
O pau de fósforo perdera a cabeça num fogaréu - história antiga, dolorosa, que nem convém lembrar - e estava ali, que nem para palito servia.
- Não presto para nada - suspirava, muito desconsoladamente, o pau de fósforo.
- Quem tal disse! - exclamou um senhor muito optimista, muito optimista, muito optimista.
- Você pode ser aproveitado, como obra de engenharia, para ajudar um carreiro de formigas a vencer um riacho... de formigas, já se vê.
- Que disparate! - contrapôs outro senhor, mas muito pessimista, muito pessimista, muito pessimista. - Passa um pé por perto e salta a ponte de pau e afogam-se as formigas... Uma desgraça!
O pau de fósforo, de cabeça perdida, não sabia por qual se guiar. Pelo optimista? Pelo pessimista? Valia a pena oferecer-se à aventura? Ai, quanto custa decidir!
Neste entretanto, passou a rasar por ele uma andorinha. Zás, em voo de reconhecimento... Passou outra vez, em sentido contrário e levou-o no bico.
Estava a construir o ninho num beiral de telhado e aquele pauzinho vinha mesmo a calhar, entrelaçado com outros paus e ramos.
Tudo se aproveita, até um pau de fósforo. Que ninguém diga que não serve para nada.
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