CORREIO DA CARNEIRO - DEPARTAMENTO CURRICULAR DO 1.º C.E.B. DO A.F.G.CHAVES

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

História do dia




Manuel e Manuela


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Eles saíram desalvorados para a escola.
- Escusam de ir a correr - disse-lhes a mãe.
- Têm tempo.
Manuel e Manuela refrearam a marcha. Se a mãe lhes dissera que tinham tempo é porque tinham.Logo ali, quase à mão de apanhar, umas tangerinas, penduradas de um ramo, que lhes dizia adeus. O Manuel trepou ao muro e raptou duas tangerinas da tangerineira, uma para ele outra para a irmã. Fresquinhas. Deliciosas.
- De quem é o quintal? - perguntou a Manuela ao Manuel.
- É do cabo Octávio, da Guarda Republicana disse o Manuel.
- E se ele sabe? - assustou-se a Manuela, que gostava de assustar-se.
Mas já tinham comido as doces tangerinas.Continuaram o caminho e logo por azar, à entrada da escola, deram com o cabo Octávio, postado de sentinela.
Os dois irmãos, ao verem-no, esconderam-se atrás de uma árvore.
- E se ele descobre? - assustou-se a Manuela.
- Cheira-nos as mãos, que ainda cheiram à casca das tangerinas, e prende-nos.
Claro que era um exagero, uma tolice, mas quando se tem a consciência pesada só se pensa no pior.
- Vamos lavar as mãos ao rio - lembrou o Manuel.
Foram. O perfume da tangerina é que não saía nem por mais uma.
- Temos de arranjar sabão para lavar as mãos como deve ser - disse o Manuel.
Lavadeiras tinham deixado lençóis a secar, estendidos nas pedras lisas da beira-rio. E um bocadinho de sabão.
- Há-de ser da senhora Angelina, lavadeira - disse a Manuela.
Lavaram conscienciosamente as mãos, muito bem ensaboadas, mas o sabão escorregou-lhes e foi ao fundo. Não era grande a perda.
Eles a retomarem o caminho para a escola e a verem, ao longe, a senhora Angelina, com mais uma carga de roupa para lavar. Vinha em direcção a eles. Claro que a Manuela e o Manuel, por causa da história do sabão, fugiram, sem que a lavadeira percebesse porquê.
Fugiram e perderam-se.Quando retomaram o caminho e chegaram à escola, onde já não pairava a sombra do cabo Octávio, a aula tinha começado há que tempos.
- Hão-de dizer à vossa mãe para passar a acordar-vos mais cedo.
Os dois irmãos disseram que sim. Que mais podiam eles dizer?
A professora ralhou-lhes pelo atraso.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




Táxi
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Deram ao cachorrinho o nome de "Táxi". Com tantos nomes disponíveis, logo foram escolher este! Mas ele não se importava.
- Táxi - chamavam.
E ele vinha, a dar ao rabo, sempre contente. Mas eram os donos de má qualidade. Gostavam de brincar com o cachorrinho, pois gostavam, mas quando o viram crescer e transformar-se num grande cão disseram:
- O Táxi só está a estorvar. Não podemos mantê-lo cá em casa.
Abandonaram-no. Há gente assim, sem coração. O Táxi viu-se no meio de uma rua, com grande movimento, e desorientou-se. Cheirou o ar e não deu com o caminho de casa. Nem valia a pena. Supomos que o Táxi suspeitava que já não o queriam. Tinha de conformar-se. Ia ser um cão vadio, um cão de rua, um Táxi sem dono nem passageiro.
- Táxi - chamaram, perto.
Ele acorreu ao chamamento.
- Sai daqui, cão - enxotou-o uma senhora, que ia a apanhar um táxi.
- Táxi - chamaram, mais adiante.
O cão não se fez esperar, mas um senhor cheio de embrulhos, que ia a entrar num táxi, deu-lhe um pontapé. Ele não percebia. Chamavam-no e logo o rejeitavam. Gente esquisita. De desilusão em desilusão, foi ter a uma praça de táxis. Mero acaso. Um motorista, que estava à espera de freguês, partilhou com ele uma bucha com queijo.
- Como te chamas? - perguntou-lhe o motorista por perguntar.
Se ele pudesse responder... Fosse como fosse, talvez por afinidade, foi-se deixando ficar. Os motoristas acharam graça à alegre pressa com que ele se levantava dos quartos traseiros quando alguém pedia um táxi.
- É cá dos nossos - diziam.
E adoptaram-no. Continuava a ser um táxi livre, sem dono, mas protegido por uma quantidade de amigos.
Afinal o nome Táxi sempre lhe valera para alguma coisa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




Não tem Escolha

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser uma:
- Rei.
Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus projectos de futuro?
Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia.
Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais queixar-se:
- O meu filho, que eu gostava tanto que fosse jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem.
Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o que é que aconteceria?
Encheu-se de coragem e disse.
O rei, que era um homem compreensivo, respondeu-lhe:
- Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser arquitecto, mas o teu avô deixou-me esta obrigação, que havia eu de fazer?
Por sinal que era um rei muito dado a construções. Se o queriam ver feliz, mostrassem-lhe projectos de obras públicas, hospitais, escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os arquitectos e os engenheiros como se fosse um deles.
- Se não tivesses de ser rei, o que é que gostavas de ser, quando fosses crescido? - perguntou o rei ao príncipe.
- Gostava de ser veterinário - respondeu o príncipe.
- Não vai ser fácil. Um rei veterinário não é muito comum. Há casos de reis-soldados, de reis-marinheiros, de reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar no assunto.
Era um bom pai e um bom rei. Em segredo, começou a projectar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se fosse um arquitecto.
Quando tinha a obra toda projectada, estendeu os rolos dos projectos diante dos olhos do filho e disse-lhe:
- Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o jardim, quando fores rei.
Mas o pai podia mandar construir agora - disse o príncipe.
- Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu morrer, deixo-te o reino e estes projectos, para que te ocupes deles.
Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha outra alternativa. Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico, que, uma vez pronto, maravilhou o mundo.
Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha querido ser arquitecto.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA


Grandes Bigodes
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)

Era um senhor com uns grandes bigodes. Tinha muita vaidade nos seus imensos bigodes, muito espetados, metade para cada lado e um risco ao meio para se assoar à vontade.
À noite, dormia de barriga para o ar, porque não queria amachucar os bigodes. De manhã, demorava mais tempo a pentear e alisar os bigodes do que a lavar-se. Mas lavava-se, podem crer!
No autocarro para o emprego, sempre muito cheio de gente, acotovelava à esquerda e à direita, para que não fossem de encontro aos seus belos bigodes. Ao almoço, não comia sopa, para não sujar os bigodes. Nem ao jantar.
- Parece que está com uma guia do bigode mais comprida do que a outra - disseram-lhe, uma vez.
O senhor dos grandes bigodes não descansou enquanto não chegou a casa. Mirou-se e remirou-se ao espelho e, de tesoura na mão, cortou uma pontinha de um dos lados do bigode.
- Assim já está certo - disse.
Mas talvez não estivesse... Então, cortou uma pontinha do outro lado.
- Agora é que está - disse.
Mas parecia que ainda não estava...
Passou a noite a cortar, ora dum lado ora do outro, sempre descontente, sempre impaciente. E, quando chegou a manhã, o senhor dos grande bigodes já não tinha bigode.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




O Bolo-Rei

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos.Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês:
- Traz-me essa passa de volta.
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu:
- Sorry! I don't understand...
O que queria dizer na dele que pedia desculpa, mas não tinha entendido.
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa.
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas.
- Flá, plefe, pflu, pfló... Não se percebia nada.
O bolo-rei, muito irritado, ordenou ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu:
- Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo.
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse.
- São uns rebeldes estes meus súbditos - concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei.
- Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. Mas nem o bolo-rei escapou.

domingo, 30 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA


As Traças
António Torrado (escreveu)
Cristina Malaquias (ilustrou)


Eram duas traças. Tinham ido parar ao meu sobretudo, guardado no Verão, para voltar a servir no Inverno. As duas traças não me conheciam de parte alguma. Por isso não podiam pedir-me autorização para se servirem, à maneira delas, do meu sobretudo.

Naquele guarda-vestidos havia mais roupa pendurada, mas o sobretudo azul-escuro, de lã macia, era o que mais lhes convinha. Quando, chegado o Inverno, dei com dois buracos na lapela do meu sobretudo, barafustei:
- Malditas traças! Não há naftalina que as detenha.
Talvez estas traças estivessem constipadas ou a naftalina que eu tinha espalhado pelos bolsos do sobretudo fosse de má qualidade... Talvez estas traças não respeitassem nada nem ninguém, nem sequer senhores de sobretudo ou sobretudos sem senhores...
- Logo na lapela, tão à vista de toda a gente. Podiam antes ter traçado o forro ou as abas, atrás. Assim, inutilizaram-me o sobretudo. Não tem remédio.
Devia haver uma maneira de avisar as traças a não roerem lapelas, golas e peitilhos de casacos e sobretudos. Talvez mudassem de hábitos.
Eu, neste Inverno, particularmente frio, tenho andado de sobretudo, o azul-escuro de lã macia, o traçado... Mas com uma particularidade: sempre com uma flor na lapela.
É para tapar os buracos feitos pelas traças. Os meus amigos não sabem e dizem-me que ando com um ar festivo.
- Andas tão alegre, neste Inverno - comentam.
Se eles soubessem...

PROVÉRBIOS DE DEZEMBRO



Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
Dezembro frio, calor no estilo.
Em Dezembro, treme de frio cada membro.
Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
Mal vai Portugal , se não há três cheias antes do Natal.
Do Natal a Santa Luzia cresce um palmo o dia.
Noite de Natal estrelada dá alegria ao rico e promete fartura ao pobre.
Natal a assoalhar e Páscoa ao luar.
Em Dezembro descansar para em Janeiro trabalhar.
Depois que o Menino nasceu, tudo cresceu.
Pela Santa Luzia, minga a noite e cresce o dia.
Dezembro de frio e neve,
Dias pequenos sem luz:
Mas foi no mês de Dezembro
Que veio ao mundo Jesus.
In “Cantares de todo o ano”
Em Dezembro corta lenha e dorme.
Dos Santos ao Natal bico de pardal
De S.ª Catarina ao Natal, um mês igual.
Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio
Dezembro frio, calor no estio.
Dia de S. Silvestre (31/12), quem tem carne que lhe preste.
Do Natal à Sta. Luzia, cresce um palmo em cada dia.
Dos Santos ao Natal, é Inverno natural.
Ande o frio por onde andar, há-de vir pelo Natal.
Caindo o Natal à 2ª feira, tem o lavrador que alugar a eira.
De Santa Catarina ao Natal, mês igual.
De Santos a Santo André, um mês é; de Santo André ao Natal, 3 semanas.
Do Natal a Santa Luzia, cresce a noite e mingua o dia.
Dos Santos ao Natal, cada dia mais mal; do Natal ao Entrudo, come capital e tudo.
Mal vai Portugal se não há 3 cheias antes do Natal.
Não há ano afinal que não tenha o seu Natal.
Natal ao sol, Páscoa ao fogo, fazem o ano formoso.
Natal em casa, junto à brasa.
Natal na praça, Páscoa em casa.
Natal à 6ªfeira, guarda o arado e vende os bois.
No dia de Natal têm os dias bico de pardal.
No dia de S. Silvestre, não comas bacalhau que é peste.
No Natal semeia o teu alhal se o quiseres cabeçudo, semeia-o pelo Entrudo.
Para que o ano não vá mal, os rios enchem 3 vezes entre S. Mateus e o Natal.
Pelo Natal se houver luar, senta-te ao lar; se houver escuro, semeia outeiros e tudo.
Pelo Natal, cada ovelha no seu curral.
Pelo Natal, neve no monte, água na ponte.
Pelo Natal, sachar o faval.
Pelo Natal, tenha o alho bico de pardal.
Quando o Natal tem o seu pinhão, a Páscoa tem o seu tição.
Quem quer bom ervilhal semeia antes do Natal.
Quem varejar antes do Natal, deixa o azeite no olival.
Se queres a desgraça de Portugal, dá-lhe 3 cheias antes do Natal.
Se te queres livrar de um catarral, come uma laranja antes do Natal.
Tudo a seu tempo, e os nabos no Advento.
Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
Depois que o menino nasceu, tudo cresceu.
Em Dezembro descansa, em Janeiro trabalha.

sábado, 29 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




O Papagaio do Restaurante

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era um papagaio muito esperto. Tudo o que ouvia imitava. E até o que não ouvia...Tinha poiso no restaurante do senhor Albano, um modesto restaurante do bairro, sem nada de especial, salvo o papagaio. À sua conta, o palrador atraía a clientela, que vinha de longe só para ouvir-lhe as habilidades.
-Como te chamas?
Tratava todos por tu.
Não era um papagaio de cerimónias. O visado respondia, por exemplo:
-Manuel.
E logo o papagaio rimava:
- Pastel.
Ou caso fosse:
- Manuela.
O papagaio rimava:- Rodela de morcela.
Ou:
- Agostinho.
- Copo de vinho.
Sempre que fosse rima de comer ou de beber, o senhor Albano servia.
- Somos sócios - explicava o senhor Albano, muito contente com o negócio dos comes e dos bebes.
Mas não eram. E porque não eram, o papagaio gostava de pregar-lhe partidas.
Uma vez, um cliente, que precisou de ir à casa-de-banho e ia abrir a porta respectiva, ouviu uma voz dizer:
- Está gente.
O senhor recuou e esperou. Esperou o mais que pôde e mais não podendo foi dar conta da sua necessidade noutro sítio. Outra pessoa com vontade de ir à casa-de-banho e a mesmo voz a avisar:
- Está gente.
O caso repetiu-se, a ponto de o senhor Albano se intrigar. Ele próprio foi ter à porta da casa-de-banho.
- Está gente - respondeu a voz.
O senhor Albano não se conformou e abriu a porta. Como se calcula, o papagaio era o responsável. Agarrado pelo pescoço, teve de ouvir das boas do dono:
- Eu te dou a gente, papagaio de uma figa torta.
- Mão morta, mão morta, vai bater àquela porta - respondia o papagaio, muito esganiçado. Passados dias, a mesma coisa. Alguém com precisão inadiável e a porta da casa-de-banho fechada.
- Está gente - diziam, de dentro.
Minutos depois, novo truz-truz e a mesma voz a anunciar: O senhor Albano desconfiou e também ele bateu:
- Está gente - foi a resposta.
- Isso é que não está - disse o senhor Albano, atirando um ombro à porta que, por sinal, estava fechada à chave.
- Está gente - gritou um indignado protesto, do outro lado.
Novo encontrão, a porta cedeu e o senhor Albano entrou, de repelão. Afinal, desta vez, estava mesmo gente, logo, para mais, uma senhora...
- Ah, desculpe que foi engano! - exclamou, atrapalhado, o dono do restaurante.
O papagaio, que a tudo assistira, escondido atrás de umas pipas, riu que se fartou. Ou não se fartou, porque daí em diante, por tudo e por nada, gritava:
- Albano foi engano - e largava uma risada daquelas amalandradas, de rebentar com os nervos a um santo, quanto mais a um Albano, dono de um tasco de comes e bebes. O que ele barafustava:
- Palavra que, um dia, perco a cabeça e meto-te na panela.
- Perdias clientela - gritava o papagaio.
- Deixo-te a cozer!
- Ficavas a perder...
- Com batata às rodelas!
- Depois é que eram elas...
- Sal, azeite ou margarina...
- Servido com presunto...
- Albano sem bestunto!
- E salsa bem picada...
- Sem mim não eras nada!
- Sabias a galinha.
Neste ponto, o papagaio eriçava-se todo e gritava:
- Galinha, qual galinha?!
A minha carne é minha! A minha carne é minha! E voava assarapantado, deitando ao chão tudo o que estivesse nas prateleiras do restaurante. Nessas ocasiões, o senhor Albano, avaliados os estragos, também não se ficava a rir.
Fora estes arrufos, davam-se os dois muito bem.
- Ficavas na ruína! Ficavas na ruína!
- Está gente.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O ALFABETO DA FELICIDADE


(A): É muito difícil definir a FELICIDADE, esse bem tão desejável. No entanto, podemos falar sobre ela, expondo diferentes ângulos pelos quais pode ser vista, apreciada e compreendida. Assim, podemos afirmar, por exemplo, que a felicidade está presente quando não somos obrigados a fazer o que não queremos. O simples fato de termos de engolir o que não queremos nos torna infelizes, não é verdade? Outro exemplo: as coisas complicadas raramente trazem felicidade; ela é mais facilmente encontrada nas coisas simples.
(B): A felicidade não se permite ser egoísta. Quando verdadeira, ela quer espalhar-se, contaminar tudo à sua volta. Ela quer doar-se! Nesse sentido, é uma riqueza que a todos quer enriquecer.
(C): Não existe felicidade completa. Quando compreendemos e aceitamos esse fato, ficamos mais sábios, passando a saborear melhor cada gota de felicidade proporcionada por nosso destino e nossos esforços.
(D): A felicidade tem de ser procurada ativamente. Se ficarmos passivamente à espera de alguém ou de algum fato que nos traga felicidade, veremos que ela nunca chegará. Ao contrário, é muito provável que a tristeza chegue antes dela.
(E): A felicidade é uma graça exigente, pois requer inteligência, energia, atenção e empenho. Só quando esses requisitos estiverem presentes, ela poderá se aproximar de nós.
(F): Ser gentil traz felicidade, pois é uma atitude pertencente à família do AMOR.
(G): A felicidade é uma árvore cujas raízes estão dentro de nós mesmos; apenas suas folhas dependem das coisas exteriores.
(H): Por incrível que pareça, o fato de termos sido infelizes nos permite apreciar melhor a felicidade.
(I): A verdadeira felicidade está em ficarmos livres de preocupações, emoções negativas e desejos incontroláveis.
(J): Os deuses nos criaram para sentirmos felicidade. Somos nós que fazemos de tudo para atrapalhar esse desígnio.
(L): O descontrolado excesso de desejos é o maior inimigo da felicidade.
(M): Ter bom coração nos traz o prêmio da felicidade.
(N): Beneficiar os outros atrai a fada Felicidade.
(O): Ter felicidade é estar bem na cabeça, no coração e no corpo.
(P): Quando, de alguma forma, proporcionamos felicidade, nos tornamos felizes.
(R): A felicidade é um pássaro fugaz e, por isso, não devemos tentar prendê-lo; podemos apenas admirar a sua beleza.
(S): Quem souber suportar o sofrimento com dignidade e nobreza chamará a felicidade para si.
(T): A felicidade ama quem procura sinceramente ser sábio, honesto e justo.
(U): Felicidade é estar bem na própria pele.
(V): Viver prisioneiro do egocentrismo é a maior das infelicidades. Ser capaz de sair dele, mesmo que por instantes, já é felicidade.
(X): Para um coração habitado pela felicidade, tudo é festa. Para um coração habitado pela raiva e pela mágoa, nem a melhor das vidas tem graça.
(Z): A felicidade faz dos desprovidos, milionários.
No texto acima, apresentamos apenas o alfabeto da felicidade. Existe, porém, a possibilidade de um aprofundamento muito maior desse tema de central importância para o ser humano. Nossa intenção aqui foi a de indicar apenas os primeiros passos a serem dados no caminho da felicidade.

Carta de Natal


Escrevo esta carta para te fazer o meu pedido de Natal.


São vinte e três, um de cada letra do abecedário.

São para mim e para todas as pessoas do mundo.



Amor. Para dar e receber.

Bondade. Para os corações que não têm a necessária.

Coragem. Para enfrentar os problemas do dia a dia.

Decisão. Poder decidir com a mente e com o coração.

Esperança. Que seja a ultima a morrer.

Felicidade. Todos merecem ser felizes.

Generosidade. Dar sem esperar receber.

Honestidade. Ser honesto é virtude.

Igualdade. Mesmo que as pessoas sejam diferentes.

Justiça. Porque a injustiça é cruel.

Liberdade. É um bem precioso.

Moral. Para saber distinguir o bem do mal.

Nacionalidade. Todos devem ter uma nação.

Orientação. Que ninguém se sinta perdido.

Paz. Porque a guerra não pode vencer.

Qualidade. Não interessa ter muitos se não forem bons amigos.

Respeito. Respeitar e ser respeitado.

Saúde. Para o corpo e para a mente.

Tranquilidade. Mesmo nos momentos mais difíceis.

União. Porque a união faz a força.

Valentia. Porque a coragem é a mais forte.

Xarope e outros medicamentos. Não faltem a ninguém.

Zelo. Temos que zelar uns pelos outros.


Estes 23 pedidos sao para oferecer a todos os meus amigos...

História do dia



A Cegueira do Príncipe


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)

Veio esta história de longe, da Índia, que é terra fértil em histórias de encantar. Aí se conta de um príncipe filho do poderoso marajá (que era um rei da Índia, de antigamente), aí se fala de um príncipe cego.
Inexplicável doença roubara-lhe a luz dos olhos e nenhum sábio ou médico dos mais eminentes conseguia atinar com a cura do seu mal. O rei (o marajá) só vivia para o seu desgosto e toda a corte mergulhara também em grande tristeza.
Mas, um dia, apresentou-se no palácio um peregrino que disse:
- Sei do remédio que cura o príncipe.
O marajá chamou-o logo à sua presença:
- Diz-me o que precisas para livrar o meu filho da cegueira, que tudo se fará como tu ordenares. - Preciso apenas de uma taça de cristal - respondeu o peregrino - e que Vossa Majestade me acompanhe numa viagem, através do reino.
Rei e peregrino desceram às ruas e aos campos miseráveis do reino. Por onde passavam, onde houvesse lágrimas vertidas pelo povo, lágrimas de sofrimentos, de misérias, de injustiças sofridas e caladas, o peregrino colhia-as na sua taça de cristal.
Quando tiveram a taça quase cheia de lágrimas - o que não foi difícil, porque o povo daquele reino era pobre e vivia abandonado, no meio da sua pobreza -, quando deram por finda a viagem e regressaram ao palácio, o peregrino banhou os olhos do príncipe com o conteúdo da taça.
Que ninguém se admire com o que sucedeu...
Imaginem que logo, naquele instante, o príncipe voltou a ver. A história não conta se o rei, depois desta viagem, passou a cuidar melhor dos assuntos do reino nem se o príncipe, uma vez rei, foi bom e justo para o seu povo.
A história não conta, mas nós acreditamos que sim, que foi tal e qual como nós desejamos que tudo passou a acontecer.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

História do dia


O Senhor Gordo


António Torrado (escreveu )


Cristina Malaquias (ilustrou)



Era uma vez um senhor muito gordo.Foi ao médico dos gordos, que querem passar a magros ou a menos gordos. Um médico muito famoso.
- O que o senhor precisa é de fazer exercício - disse-lhe o médico.
- Que género de exercício? - perguntou o senhor muito gordo.
- Desporto - explicou-lhe o médico.
- Ginástica, natação, corrida...
O senhor gordo, que também era muito preguiçoso, preferiu a corrida, mas a cavalo. Sempre era mais confortável.No mês seguinte, voltou ao médico.
- O senhor está na mesma - disse-lhe o médico, depois de medir-lhe a cintura.
- Não emagreceu nada.
- Mas emagreceu o cavalo - esclareceu o senhor gordo.
- Depois deste mês de exercício, a carregar comigo, está só pele e osso.
E o senhor continuou gordo, para o resto da vida.
O cavalo, esse, teve de ir consultar um veterinário, a ver se engordava.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA




A Fonte dos Pardais

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez uma fonte à beira da estrada. Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro.
Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros.De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e, depois, abalava. Nessas alturas, a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar.
- O que é que ele vai fazer com tanta água? - intrigava-se um pardalito novo.
- Deve ir regar as couves - sugeria um pardal.
- Para ele regar as couves é pouca - replicava uma velha pardoca, muito conhecedora da vida.
- Então é para ele beber - propunha outro pardal.
- Para ele beber é muita - replicava a velha pardoca.
- Para o que será? - perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder-lhe.
Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se.
Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho. Alto lá! E também havia garrafões de água, tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais.Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões: "ÁGUA DA FONTE DA SAÚDE - Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem".
Aos saltinhos, diante dos garrafões, o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte, centro da sua vida, e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem, aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro.
Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que, lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera. Disparou em direcção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros:
- Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte.
- E a água para que serve? - perguntou um companheiro.
- Para segurar o nosso retrato - respondeu, prontamente, o pardalito.

terça-feira, 25 de novembro de 2008


Zé Desgraçado

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez um homem muito pobre. Não tinha nada de seu e vagabundeava, todo esfarrapado e de longas barbas cinzentas, de terra em terra, vivendo de esmolas.
Chamavam-lhe Zé Desgraçado e, com o tempo, esse passou a ser o seu verdadeiro nome. Há também que dizer, à partida, que a história se passa em África. Zé Desgraçado ia pelo meio do mato quando encontrou um antílope morto, trespassado por uma azagaia. Pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu".
Todo contente, começou a juntar lenha para fazer uma fogueira onde assar o antílope. Nisto, um passarinho poisou-lhe no ombro e disse:- Zé Desgraçado, não comas essa carne.
Continua em frente, que o melhor está para vir.Zé Desgraçado, embora contra-vontade, correspondeu ao conselho do passarinho.Seguiu viagem, apertadinho de fome, mas seguiu. Mais adiante, encontrou uma gazela, morta, também trespassada por uma azagaia.O vagabundo pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu.
E o caçador passo a ser eu".Mas, de novo, o passarinho lhe disse:- Zé Desgraçado, não comas essa carne. Continua em frente, que o melhor está para vir.
Muito contrariado, o mendigo avançou pelo meio do mato. Assim, chegou ao deserto. O passarinho, que não o largava, animou-o a continuar a viagem.
Sob o fogo do sol, cheio de sede e de fome, o Zé Desgraçado arrastou-se pela areia. Dunas sobre dunas e mais dunas e dunas...
Até que chegou a um oásis. Como se estivesse à espera dele, um rancho de criados despojou-o dos farrapos, mergulhou-o numa tina de água perfumada e cobriu-o, depois, de ricas vestes. O vagabundo já não parecia o mesmo, embora continuasse com fome. Os mesmos criados conduziram-no a uma grande tenda, onde estava uma bela senhora vestida de penas.
Ela falou, a desejar-lhes as boas-vindas, e o Zé Desgraçado reconheceu a voz do pássaro que o conduzira.
Era viúva e única dona do oásis e da mina de ouro que nele havia. Parece que estava tudo predestinado para que ali se realizasse um casamento, seguido de sumptuosa boda... Ao Zé Desgraçado convinha-lhe, tanto mais que continuava cheio de fome.
- Vais casar-te comigo - disse-lhe a senhora.
- Mas imponho-te uma condição: nunca podes olhar para trás.
O vagabundo estava por tudo. Desde que comesse qualquer coisinha...
Depois da cerimónia do casamento, estenderam as iguarias, sob a cúpula da tenda. Manjares deliciosos. Entre eles, um antílope e uma gazela. Zé Desgraçado que ia a provar, de água na boca, um bocadinho de carne tostada, lembrou-se:
- No caminho para cá, encontrei um antílope e uma gazela, iguais a estes.
E apontou para trás. E olhou para trás.Logo tudo se desvaneceu.
Nem que fosse um sonho. Zé Desgraçado voltou a encontrar-se no meio do mato, sozinho e cheio de fome.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

História do dia


O Tesouro da Vila
António Torrado (escreveu )
Cristina Malaquias (ilustrou)

Andava o senhor Firmino a vender lotaria nas ruas de Vila Nova, ao começo deste estranho caso. Era cauteleiro o senhor Firmino.
- Quem quer a sorte? O Firmino dá sorte! Quem quer os últimos para amanhã? - apregoava ele.
De boné à banda, com um cacho de cautelas penduradas do braço, o senhor Firmino percorria a vila. Tinha a cara queimada do sol e do vento, que lhe baralhava os bilhetes inteiros e as listas dos prémios.
- Anda amanhã a roda para os números do Firmino - prometia.
- Ainda tenho um bilhete quase inteiro com o meu palpite...
Era muito popular na vila o senhor Firmino. Houve, por isso, um grande sobressalto quando se soube o que tinha sucedido ao senhor Firmino. Calculem que...
O melhor será dar-lhe a palavra, porque ele sabe contar melhor do que eu:
- Já há tempos que não ia para os lados do Outeiro, lá no fim da vila. O sítio é mau para vender jogo. Tem pouco movimento, mas, junto à bomba da gasolina, às vezes, consigo arranjar freguês. Ia com o sentido nisso, porque queria despachar jogo. Na bomba, já uma vez me ficaram com um bilhete...
- E desta arranjou fregueses novos... - interrompeu alguém.
O senhor Firmino zangou-se:
- Não brinque com a minha pouca sorte, homem! Podia eu lá calcular que me ia suceder uma daquelas?! Eu ia para lá, e cruzei-me com um rebanho de cabras, tocadas por um garoto, que é afilhado do Bolota. Estava uma ventania dos diabos. P
ara proteger os bilhetes, ajeitei-os debaixo do casaco e segui caminho. Passei pelo meio do rebanho e, de facto, reparei que uma das cabras engraçara comigo e se pusera a seguir-me, com o focinho a roçar-me as pernas. Achei simpático o bicho e até me virei para lhe fazer uma festa, calculem! Nessa altura, a cabra fugiu e foi quando eu vi que ela levava nos dentes um bocado de papel cor-de-rosa.
Tive um pressentimento, fui ver o jogo e faltava-me um bilhete, um dos que tinha ficado fora do casaco. A cabra papara um bilhete, parte do qual levava ainda na boca. Corri atrás dela, corremos os dois, eu e o pastor ou os três, eu, o garoto e a cabra, que corria mais do que nós dois juntos. Claro que, quando a apanhámos, já tinha engolido o resto.
Disse-me o rapaz que ela, no outro dia, comeu uma toalha e um lençol. Que esperam dum bicho destes?
- E agora? - perguntaram.
- Agora é esperar. Fui ter com o Anselmo Bolota, que é o dono das cabras, e ele, depois de grande questão, resolveu pagar parte dos prejuízos, ou seja, ficou com três décimos do bilhete que a cabra comeu.
- Então o resto?
- Quem vai arriscar-se a comprar cautelas que estão na barriga de uma cabra?
Com o resto fico eu ou a cabra, a única, afinal, que já ganhou. O número é o 17029. Depois de amanhã anda a roda! Foram dois dias ansiosamente vividos por todos os de Vila Nova e arredores. Não se falava de outra coisa. E se o 17029 ganhava a Sorte Grande?
Era uma pipa de massa, pois então! A dividir por quem? Pelo Firmino e pelo senhor Bolota, que só comprara três décimos, mas era o dono do animal! Por ninguém, visto que não havia bilhete que comprovasse, depois, aos balcões da Santa Casa, o direito ao prémio?
Mas que grande complicação! No Café Central, na Leitaria Sevilhana, no Jardim da Guia, no largo da Igreja, no pátio da escola, nas lojas da Rua dos Alecrins, o único tema era o tesouro, o possível mas obscuro tesouro, guardado e bem guardado na barriga de uma cabra de seu nome Rabisca. E essa, sim, a Rabisca, como se comportava ela? Ora!
Continuava a mastigar o que lhe vinha ao dente, sem ligar a mínima importância à balbúrdia que tinha provocado. "Ai, se saísse a sorte grande no 17029!...", pensava o senhor Firmino, o senhor Bolota e toda a vila, em peso.
Andou a roda, saltitaram as bolinhas dos números, mas o 17029 ficou-se no meio dos outros, dos que não saíram pela porta mágica da fortuna. Quando a vila soube que o 17029 não tinha sido premiado, respirou finalmente, aliviada.
O senhor Firmino queixou-se da sua sorte e prometeu nunca mais comer queijo de cabra, mas com o tempo, o bom cauteleiro acabou por levar o caso para a brincadeira.

sábado, 22 de novembro de 2008

Dia das Bruxas

A CASA ASSOMBRADA

Era uma vez uma bruxa e um gato preto.
Viviam numa casa assombrada.
A bruxa era horrível, com rugas e unhas grandes. Ela estava a fazer uma poção que levava asas de morcego e dentes de leão.
certa vez o gato estava a apanhar ratos e foi contra o caldeirão.
O caldeirão partiu-se e a poção verteu-se.
Foi ao armário dos caldeirões mas estavam todos partidos. Então foi a casa da sua vizinha pedir um emprestado. Por sorte era o ultimo que a vizinha tinha.
Continuou a fazer a sua poção e o gato começou a ser mais cuidadoso com medo da bruxa.

( Diogo Nuno 3º ano santo Amaro)

As Energias

AS ENERGIAS

Fui visitar o autocarro das energias e lá aprendi que há vários tipos de energia: energia do vento, do calor, da biomassa, da electricidade, das ondas( marés), geotérmica, do gás natural, do sol, etc.
Aprendi que há também energias que se esgotam. Exemplo o petróleo, carvão… mas há outras que são renováveis, tais como a energia do sol, do interior da Terra, do vento…
Gostei muito de aprender as várias energias. Estas são importantes para o ser humano.

Luís Filipe – 3º ano Santo Amaro)


AS ENERGIAS

Há dois tipos de energia: as energias renováveis e as não renováveis.
As não renováveis são o petróleo, o carvão e o gás natural.
As renováveis são a energia hídrica, a eólica, a solar, a geotérmica, a biomassa, , as marés .
A electricidade é produzida em centrais eléctricas que , depois é transformada e transportada através de uma rede eléctrica para as nossas casas.
Sem energia eléctrica não havia luz por isso não tínhamos os electodomésticos que possuímos nas nossas casas.
A electricidade faz muita falta mas também pode ser muito perigosa.

( Pedro Miguel 3º ano – Santo Amaro)

As ENERGIAS

Há vários tipos de energia. As que já tinha ouvido falar são a energia hídrica, a eólica e solar.Agora aprendi que existem também a energia geotérmica, a biomassa e a energia das marés.
Eu, no autocarro da energia vi um painel solar verdadeiro. Também já vi de perto uma ventoinha ( turbinas) num parque eólico e também já fui visitar uma barragem.
È assim que se produz a energia eléctrica: a electricidade é muito importante para o nosso dia a dia

(Diogo Reis 3º ano – santo Amaro)

ENERGIAS

As energias são muito importantes para a nossa vida diária. Mas, devemos ter muito cuidado no seu uso para pouparmos, uma vez que algumas fontes são esgotáveis. O petróleo, o carvão e o gás natural além de serem recursos esgotáveis são também muito poluentes.
Existem outras fontes de energia que não são poluentes. São as energias renováveis. São provenientes do sol, do vento, da água dos mares e do aproveitamento de resíduos da floresta e mesmo dos resíduos que produzimos em nossas casas.
Mesmo não sendo poluentes e não se esgotarem devemos ter o mesmo cuidado com o seu uso para pouparmos o máximo possível por ser um produto muito caro.

Paulo Casas 3º ano – Santo Amaro)

História do dia




Uma História do Teotónio

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

O maior aventureiro da nossa rua é o senhor Teotónio. Correu mundo e gosta que saibam.
- Não ficou nenhum cantinho por conhecer - costuma ele gabar-se, quando fazemos roda à sua volta.
- Esteve na Índia? - pergunta um de nós.
- Sete vezes - responde ele.
- E na China?
- Outras tantas - responde o Teotónio.
- Conhece o Japão?
- Como os meus dedos.
- Então conte-nos uma aventura sua no Japão - pedimos.
- Hoje não, que não tenho paciência - responde-nos o senhor Teotónio, a fingir que se levanta e que se vai embora.
Nós insistimos.
Ele faz de conta que não quer contar e passamos assim que tempos, neste jogo. Até que levamos a nossa a melhor. Levamos sempre.
- Estou a recordar-me de um naufrágio por que passei, de uma vez que vinha do Japão - começa ele.
É uma história do Teotónio. Verdade ou mentira ele que responda. Segundo o seu contar, vinha do Japão, como marujo, num navio mercante, quando se lembrou de que tinha prometido à madrinha um quimono. A senhora que fazia tanto gosto no roupão de seda bordada e ele que se esquecera da encomenda. Não podia voltar atrás o navio, mas podia ele.
Às escondidas, baixou um escaler e abandonou o barco. Depois, remou, noite e dia, dia e noite, tudo por causa do quimono da madrinha.
Que dedicação de afilhado!Mas levantou-se uma tempestade e o barquinho a remos, que ia a passar pelo meio de uns ilhéus, sacudido de um lado para o outro, foi embater nuns escolhos e desfez-se. Por pouco que não se desfez com ele o senhor Teotónio.
Muito abalado, conseguiu nadar até à praia de um dos ilhéus, onde, exausto, se deixou adormecer.
Acordou, tempos depois, com uma esquisita sensação de aperto. Uns enormes olhos fitavam-no e ele estava nas mãos de um gigante. O senhor Teotónio viera ter à ilha dos temíveis Carantões, uma ilha lendária que todos os marinheiros japoneses temem.
A carantonha que o segurava nos dedos era uma gigante ainda pequenina, uma menina gigante. Para ela, o senhor Teotónio equivalia a um boneco achado na praia.
Ele não podia dar parte fraca. Fez-se de borracha e exibiu um risinho rígido de boneco japonês. Nessa qualidade, passou a confraternizar com os outros brinquedos da menina carantonha.
Mas aquilo não era vida. Ser despido e vestido pela carantonha, embalado e lavado, pendurado de pernas para o ar e atirado ao chão, sem cerimónia, não se tolerava. Eram humilhações demais para um aventureiro.Decidiu fugir. Num barco de brinquedo, quase do tamanho do escaler em que naufragara, fez-se ao mar, à hora da sesta da sua tutora e carcereira.
De bagagem, levava um quimono, surripiado à menina.
- Ó Teotónio, mas este quimono está-me enorme! - disse-lhe, tempo depois, a madrinha, que até era bastante avantajada de corpo.
- Tu julgas que eu sou alguma gigante ou quê?
Não valia a pena explicar à madrinha os perigos e sacrifícios por que passara para lhe trazer aquele roupão de mangas larguíssimas.
Talvez até ela o tomasse por mentiroso.
Nessa não caímos nós.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

História do dia




O Capuchinho e o Lobo


António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)



Era um frade de capuz descido, a caminho do mosteiro, no cimo da serra.
A friagem do princípio da noite era de respeito. Vinha tocada pelo vento, que assobiava pelas frinchas dos rochedos e despenteava as copas dos pinheiros. O frade tremia.
Tremia de frio ou tremia de medo?
Vai-se lá saber, mas o mais certo é que se juntassem nos mesmos sítios do corpo as duas tremuras. As pernas vacilavam-lhe. Os dentes tiniam-lhe uns de encontro aos outros, enquanto balbuciava uma prece incerta:
- Que Santa-ta-ta Bár-ba-ba-ra me-me livre dos lo-bos-bos-bos...
Nem de propósito.
Salta-lhe um lobo ao caminho, com os olhos em fogo e uma dentadura de escárnio e malvadez, que metia impressão.
- Vais para casa da avozinha? - perguntou-lhe o lobo, que sabia da história antiga o suficiente.
Tinham-lhe contado em pequeno, com muitos pormenores que ele já esquecera.
Do essencial ainda se lembrava. Como estava escuro, o lobo não distinguia a cor do capuz nem isso lhe importava muito.
- Levas merenda para a viagem? - insistiu o lobo, perante o silêncio do frade encapuçado.
O caminho era ruim, com lombas e pedras soltas, mas o frade não se queixou e seguiu por ele adiante, em passo cada vez mais estugado, como se a conversa não fosse com ele. O lobo à cola.
- Ó capuchinho, então tu não falas? - soprava-lhe o lobo às canelas. - O que é que tu levas de comer para a avozinha?
Um frango assado? Presunto? Compota? Biscoitos?
O lobo, a dizer estas coisas, babava-se que era uma vergonha. E o frade, moita!
- A avozinha, à tua espera, já deve estar em cuidado. Queres que eu vá, à frente, avisá-la de que não tardas? Depois esperamos por ti... Onde é que ela mora?
Nesta oportunidade, o frade podia safar-se.
Dizendo onde morava a avozinha, mandava o lobo descer até um posto da guarda, nos baixos da serra. Os guardas florestais, de espingarda pronta, dariam conta do resto da história...
Mas o frade não queria nem sabia mentir.
E continuou calado, as forças todas concentradas na corrida e no fio do caminho, que nunca mais chegava ao fim.
- Ó capuchinho, que pressa a tua! Quando tu chegares a casa da avó, ainda ela se zanga contigo, se te vê toda suada, nesse desalinho de menina tontelas...
Neste ponto, o frade, não aguentando mais o bafo do lobo, gritou, num desespero:
- Não tenho avó e para onde eu vou é para o convento, se Deus quiser.
A voz do frade era forte e grossa, apesar da fraqueza das pernas e dos saltos do coração. Pasmou o lobo:
- Vossa senhoria desculpe, mas eu não sabia que o capuchinho tinha professado. Ou então enganei-me eu na história...
E o lobo meteu o rabo entre as pernas e deixou o frade em paz.
Já no meio do mato, apagado o fogo dos olhos, meneando a cabeça, o lobo matutava:
- Quando a gente é pequena acredita em tudo o que nos contam... Nunca supus que o capuchinho tivesse voz de trovão. Até se me puseram os pelos em pé do susto que apanhei. E o lobo pôs-se a alisar os pelos do dorso com a língua salivosa. Se a noite desse para vê-lo, dir-se-ia um cachorrinho desapontado. Metia pena.
Por sua vez, o frade, que, derreado, já se aproximava dos muros do convento, ainda teve fôlego para lançar às estrelas a sua possante voz, num cântico de louvor a Santa Bárbara, madrinha dos caminhantes, amansadora da braveza das feras.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

História do dia



Aprender a Voar

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez um avô e um neto. Ou um neto e um avô. Tanto faz, desde que os dois estejam juntos, no jardim onde fomos encontrá-los.
Dizia o neto, apontando uma teia de aranha:
- Ó avô, porque é que nós não somos capazes de fazer teias?
Respondia o avô:
- Claro que somos capazes.
Repara nas redes de pesca dos pescadores, nas rendas da tua avó, nos tecidos das nossas roupas...
Mais adiante, dizia o neto, apontando uma libélula:
- Ó avô, porque é que nós não somos capazes de voar?
Respondia o avô:
- Mas claro que somos capazes.
Repara nos helicópteros, nos aviões, nas naves espaciais...
Pouco depois, dizia o neto, apontando uns peixinhos no lago:
- Ó avô, porque é que nós não somos capazes de nadar debaixo de água?
Respondia o avô:
- Mas claro que somos capazes.
Repara nos mergulhadores, nos escafandristas, nos submarinos...
Concluiu o neto:
- Afinal, nós somos capazes de tudo, avô.
- Nem tanto assim - atalhou o avô. - Quase conseguimos fabricar teias como as aranhas. Quase conseguimos voar como as libélulas.
Quase conseguimos andar debaixo de água como os peixes. Mas ainda não estamos satisfeitos nem nunca estaremos.
- E os peixes estão.
- Os peixes não querem outra vida. Conheces algum peixe com vontade de fazer teias ou de voar? São o que são e contentam-se.
Com os homens não acontece assim...
- Quer dizer que os bichos nunca mudam de vida. Deve ser chato - concluiu o neto.
- E, que eu saiba, ninguém lhes conta histórias - concluiu o avô.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

História do dia


Grande Pintora


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)



- A minha sobrinha pinta papagaios...
- De papel? - perguntei eu.
- Não. Pinta papagaios de penas.
Maravilhosamente - respondeu o meu amigo.
- Se quiseres, hoje mesmo, passamos pelo atelier dela.
Fomos. O atelier da sobrinha do meu amigo parecia uma enorme gaiola.
Esvoaçantes ou empoleirados em tudo o que lhes apetecia, araras, periquitos e, já se vê, papagaios davam-nos as boas-vindas, piando e palrando.
A pintora não estava, mas o meu amigo, que tinha a chave do atelier, movia-se naquele recorte de selva tropical com o à-vontade de um índio amazónico.
- E os quadros dela sobre esta passarada toda, onde é que estão? - perguntei.
O meu amigo não sabia ou fazia de conta que não sabia. O melhor era esperar pela pintora.
Entrementes, um papagaio com as cores da bandeira nacional simpatizou comigo, poisou-me no ombro e pôs-se-me a coçar ternamente a cabeça.
Despedi-me do meu amigo e combinei, para uma próxima, nova visita ao atelier da sobrinha. Mas aconteceu um percalço. O papagaio não me largava o ombro.
- Não o contraries e leva-o - disse o meu amigo.
- Depois se verá...
Uma pessoa com um papagaio ao ombro chama sempre a atenção.
Muito envergonhadamente, percorri o caminho até casa, perseguido pelo olhar de estranheza de quem se cruzava comigo.
E, como se não bastasse, o papagaio cantarolava, incansavelmente: "Ó Rosa arredonda a saia".
Quanto a ele, fica combinado que passamos a tratá-lo por Arco-Íris.
Assim que cheguei a casa, abri as janelas. Talvez lhe desse vontade de voar, ao encontro da sua querida Rosa... Não passava disto, o que seria sinal de uma certa saudade da dona, a pintora Rosa, imaginava eu.O Arco-Íris voar, voava, mas saindo por uma janela e entrando por outra e poisando no meu ombro e soltando-se do meu ombro e saindo pela janela e entrando, sempre a cantarolar: "Ó Rosa arredonda a saia".
Fui sentar-me junto à mesinha do telefone.
Tão concentrado eu estava, à espera do prometido telefonema, que nem dei por que tinha começado a chover. E logo as janelas todas abertas...
Passados uns minutos, um bicharoco encharcado e cinzento, cor de rato, fincou-me as patas nos ombros. Dei um salto de susto.
O bicharoco abriu as asas e gritou:- Ó Rosa arredonda a saia.
Não era possível. Outro papagaio, este cinzento, a cantar a mesma cantiga?
Já calculam o que se passou. O Arco-Íris, com a molha, perdera as cores radiosas da bandeira nacional.
Perdera-as porque, simplesmente, não lhe pertenciam. Pintado, pena a pena, pela sobrinha do meu amigo, o Arco-Íris revelava-se, afinal, um vulgar papagaio descorado.
Quando contei a história ao meu amigo, ele riu-se:
- Bem te avisei que a minha sobrinha era pintora de papagaios. Uma grande pintora!
Em conclusão: fiquei dono de um papagaio cinzento, que ninguém percebe por que bizarria ou tolice é que eu o trato por Arco-Íris.

Conhecer Um Autor da Região - Alcina Gomes






Hoje, de manhã, fomos visitados pela autora de histórias infantis Alcina Gomes.
A autora apresentou a história" O Natal de Margarida" e todos os alunos estiveram embebidos na magia das suas palavras.
A mensagem que a história transmite e as palavras que a autora dirigiu ao grupo levaram-nos a reflectir em actos de solidariedade....trabalharam-se valores como a amizade, o carinho, a compreensão e a luta com que a sociedade se depara....o materialismo!!
A reflexão conjunta com o grupo foi de uma riqueza extrema.
Todo o grupo colocou questões à autora sobre as suas obras e até lhe lançaram o repto de criarem um título para que, esta, possa escrever uma nova história.
Chegada a hora do almoço, as Entrelinhas de Vila Nova, fizeram as despedidas oferecendo uma lembrança à autora. A lembrança enquadra-se com a história que ouviram, um presépio pintado pelo grupo.
Um abraço apertadinho à Alcina!!!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

História do dia - As moscas


As Moscas


António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Uma mosca. Duas moscas. Três moscas. Três moscas paradas a conversar. De que falavam? Falavam do problema da alimentação.Dizia uma:
- Tem sido uma crise, colegas. Toda a comida guardada em frigoríficos e armários, trancada a sete chaves. Ninguém lhe chega.
Dizia a outra:
- E os venenos que nos lançam, colegas. Os insecticidas... Que horror!
A terceira mosca permanecia calada. As outras viraram-se para ela. Miraram-na.
- Agora é que reparo. Como a colega está gorda!- ... e bonita - completou a segunda.
- Por onde é que se tem governado a colega?
- Por aí... Por aí... - respondeu a mosquinha bem alimentada.
E voou, dizendo adeus.As duas moscas esfomeadas comentaram:
- Ela esconde-nos alguma coisa. Vamos atrás dela.
Voaram também, dançaram no ar, disfarçando os seus intentos, enquanto a outra se distanciava. Quando a viram dobrar uma esquina, voaram em sua perseguição, sem que a mosca gorda e bem parecida se apercebesse. Por fim chegaram a um pátio.
- É aqui que aquela ingrata se esconde.
Repare, colega, repare como ela se refastela com aquele pires de leite.
- Leite? Não me fale nisso. Vamos a ele. Estou com a fome de um enxame de moscas. Vamos ao leite!Aterraram perigosamente na borda do pires.
A mosca gorda e bem parecida ficou muito mal-disposta, ao ver as outras duas:
- Como vieram aqui parar?
- O acaso... - responderam as duas manhosas.Beberam daquele leite até se fartarem. Depois foi o ajuste de contas.
- Então a colega tinha aqui esta mina escondida e não dizia nada às suas amigas?
- Este leite não é meu. Põe-o aqui, todos os dias, o dono do Tareco, para ele beber.
- E a colega tem-se banqueteado. Pois agora somos três, isto é, quatro contando com o Tareco, pois também chega e sobeja para ele... Conte connosco.E desapareceram.
A outra, a mosca gorda e bem parecida, má camarada, pouco amiga de partilhas, ficou sozinha a remorder vingança. "Esperem pela pancada, esperem!"
No dia seguinte foi ela a primeira a chegar ao pátio, onde a D. Zulmira deixava, como habitualmente, o pires de sopas de leite para o seu Tareco.
Mas desta vez, no lugar do pires de leite estava um enorme balde.
- Oh! Oh! Um balde cheio de leite - exclamou a mosca gorda e bem parecida.
- Toca a bebê-lo todo, antes que venham aquelas fedúncias, aquelas invejosas... E sem pensar duas vezes lançou-se sobre o balde, em voo picado.
Mosca tola. Mosca sôfrega.
O balde continha não leite, mas cal, cal de caiar as paredes. A mosca gorda e bem parecida engoliu cal em vez de leite. Na cal caiu, na cal morreu.
As outras duas moscas, as moscas laricas, ao aproximarem-se, ainda ouviram uns vagos pedidos de socorro, que se perderam no ar. Quando chegaram, a mosca gorda e bem parecida estava morta.
- É bem feito! - comentou uma das moscas.
- Não queria partilhar connosco, morreu do seu mau carácter. Bem, vamos ao nosso pires de leite.Voaram para o pires, que estava a pequena distância do balde. Ao chegarem, a outra mosca, mais bondosa, não soube calar este comentário:
- Tenho pena dela.Sim, porque onde comem duas moscas, também comem três...
- Isso, isso, colega! Se ela assim pensasse, não teria morrido e se todos assim pensassem, o mundo seria muito melhor, olá se seria!A mosca triste e pensativa concluiu:-
Bem, bem, vamos beber depressa o nosso leite, antes que venha o gato, ou alguma mosca esfomeada e invejosa da felicidade das outras...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Palestra Dia do Não Fumador "O Melhor é Nunca Começar!!!"

No âmbito do Projecto Educação para a Saúde, realizou-se, hoje, a palestra "O Melhor é Nunca Começar!" para celebrar o Dia do Não Fumador.
Esta actividade enquadra-se no Projecto Escolas Livres de Tabaco que está a ser desenvolvido no Agrupamento Vertical Dr. Francisco Gonçalves Carneiro.
A todos os presentes, os nossos sinceros agradecimentos!







HISTÓRIA DO DIA


Bolacha Maria

António Torrado (escreveu)

Cristina Malaquias (ilustrou)

Era uma vez uma bolacha Maria que disse que Maria, só Maria, não chegava.
Queria ser, ao menos, Maria Emília. Bolacha Dona Maria Emília, com todo o respeito.As outras companheiras do pacote fizeram-lhe a vontade. Mas, quando uma bolacha Maria começa com exigências, oh! oh! Nunca mais pára...
- Pensando melhor, não dispenso os apelidos. Quero passar a ser tratada por Dona Maria Emília de Melo e Sousa Trigo de Reboredo Farinha.
Um nome tão comprido e retorcido não é fácil de decorar. Algumas das simplesmente Maria chamavam-na de Maria de Trigo Melo e Sousa não sei quê Farinha. Outras, de Maria Reboredo Farinha de Melo Trigo de Sousa Emília. E as mais esquecidas, apenas de Maria Farinha de Trigo, o que a punha fula.- Distingam-me. Separem-me. Marquem a diferença. Eu sou uma bolacha especial. Uma bolacha Dona Maria Emília de Melo e Sousa Trigo de Reboredo Farinha.
- Tá bem - diziam as outras, que não eram de despiques.
Alguém abriu o pacote e começou a provar daquelas bolachas torradinhas e saborosas. Elas não se importavam. Sabiam para o que estavam destinadas e davam-se por contentes.
Proporcionar um pouco de prazer ao paladar era a vocação delas. A Maria que não ia com a outras, por sinal a última do pacote, não seguiu o caminho das demais. Ficou a aguardar novo acesso de apetite de quem, daquela vez, já estava de barriga cheia. Ficou sozinha. Ficou esquecida.
Amoleceu.
Quando, passado dias, deram por ela disseram:- Esta bolacha já está mole. Não presta.
E chamaram:
- Bobi, anda cá. Toma.
O Bobi, de rabinho a abanar, muito saracoteante e salivante, veio, tomou e foi assim que a excelentíssima bolacha Dona Maria Emília de Melo e Sousa Trigo de Reboredo Farinha acabou na boca do cão.
Esta história é pequenina e sabe a pouco? Pois é. O Bobi também achou o mesmo.

domingo, 16 de novembro de 2008

Formação Parental/Trecho de Intervenção

Formação Parental/EPN - 2.ª Sessão







Sexta-feira, dia 14 de Novembro, teve lugar a 2.ª sessão de Formação Parental, com a colaboração da Escola de Pais Nacional.

17 de Novembro - Dia do Não Fumador





As Estrelinhas de Vila Nova de Veiga fizeram um trabalhinho para ilustrarem esta data tão importante.

Entre todos aproveitaram para, num diálogo sério, relembrarem os malefícios do tabaco e de outras drogas.
Como lema escreveram"Não Fumar é uma Alegria!!"

Brevemente teremos o registo escrito desses trabalhos.

HISTÓRIA DO DIA


Cuidado com o Poço


António Torrado (escreveu)


Cristina Malaquias (ilustrou)


Uma raposa, que vinha a fugir dos caçadores, enfiou para dentro de um poço, à falta de melhor esconderijo.
Lá no fundo, lamentou-se:
- Safei-me de morrer de uma chumbada, mas daqui de dentro é que eu não me salvo.
Era um poço seco, um poço abandonado. Recordando o antigo uso, tinha na borda um balde, preso a uma corda de rodízio.
A outra ponta da corda estava caída no fundo, aos pés da raposa.
- Se eu conseguisse trepar pela corda acima, estava garantida - pensou a raposa.
Tentou, mas só conseguiu soltar o balde que balançou, na outra extremidade, como um sino sem badalo.
Uma ovelha, despegada de um rebanho que pastava num monte perto, estranhou o barulho e o balde a baloiçar, na boca do poço, e foi espreitar. A raposa viu-lhe a cabeça felpuda e gritou-lhe:
- Senhora ovelha, ainda bem que a encontro. Quero partilhar consigo esta novidade. Encontrei aqui em baixo uma mina de água, que é a uma maravilha. Um milagre! Mal a bebemos, ficamos com asas. Tão leves, tão leves que nem passarinhos...
A parva da ovelha entusiasmou-se:
- Com asas? Quem me dera! Como posso provar dessa água milagrosa?
- Meta-se no balde, que está aí em cima, e venha ter comigo, antes que a água acabe.
A ovelha não pensou duas vezes. Atirou-se para dentro do balde, que desceu com o peso, puxando para cima a outra ponta da corda, onde vinha agarrada a raposa.
- Eu bem dizia que este poço dava asas - dizia a espertalhona, ao pôr os pés em chão seguro.
E fugiu daquela armadilha do destino, a rir-se da malvadez.
Dar ouvidos a uma raposa, acreditar em água ou o que fosse que oferece asas a quem quer beber, que disparate, que estupidez!
Por tanta imbecilidade junta, mais merecia ela lá ficar no fundo do poço do que a raposa. A ovelha chorou, mas já não lhe valia de nada.
Vá que vá que ainda lhe valeu...
O pastor, quando foi a contar as ovelhas e deu pela falta de uma, foi procurá-la.
Chamado pelas lamúrias da ovelha, chegou-se à beira do poço e salvou-a a tempo.
Vá que vá que a história acabou em bem...
Mas nem sempre acabam assim...
A ovelha baliu desesperada e humilhada com a sua tontice.